O AMOR TEM PRAZO DE VALIDADE?

PREFACIO

Os nomes são fictícios, a história?

Bem as historias são fatos bem reais, onde com anos de vida, fui ouvindo, vendo alguns fatos até vivendo.

Portanto muitos se enxergaram aqui, mas não passam de mera coincidência.

Hoje logo pela manhã, meu amigo Hélio* me telefonou.

Muito ansioso, perguntando se a Deborah* encontrava em minha casa?

-Respondi que não e perguntei por quê?

Ele muito nervoso começou me contar:

- Você sabe que a semana passada comemorou nossas BODAS DE PÉROLA, que tínhamos um casamento maravilhoso, afinal 30 anos é uma vida...

Ontem simplesmente ela arrumou suas malas e me disse:

- Hélio as crianças estão cada um com sua vida estruturada, eu não agüento mais. Estou indo embora, já não agüento mais... Vou tentar viver um pouco e deixá-lo viver também.

- Eu implorei para ela se acalmar, me dize Hélio, mas ela garantiu que naquele momento ela estava calmíssima pegou sua mala e foi...

Fiquei praticamente muda, imagino o susto e surpresa dele, pois estava chorando... Conheço o Hélio a mais ou menos 32 anos, quando Deborah o conheceu e começaram a namorar.

Eu conheço a Deborah há quase 40 anos, estudávamos juntas e nunca mais ficamos sem contato, eu era seu ombro, sua confidente e vice-versa, nunca deixamos de nos falar uma semana se quer, sempre contávamos tudo uma para a outra.

Ela conheceu Hélio em uma danceteria que nós fomos, éramos adolescentes na época. Ele muito conversador, extrovertido, dançava muito, enfim, um bom humor tão grande que encantou Deborah que na época adorava dançar, mas era um pouco tímida.

Ele era Office boy e ela estava terminando o 2º grau e já pensando no vestibular, queria ser advogada.

As diferenças eram gritantes, talvez exatamente essa tenha sido a motivação do namoro, meio rejeitado pela família dela, noivado, e o casamento.

Ele adora se exibir, mas infelizmente, a única coisa que ele tinha para exibir era suas piadas, mudava praticamente toda semana se emprego, alguns até conseguia ficar uns dois meses...

Sempre “abria” firmas, que duravam pouquíssimos, pois dizia que os “sócios” o passava para trás.

Deborah nessa época abandonou o sonho de ser advogada, seus pais não se conformaram, mas ela dizia que essa era a vida que escolheu e que ninguém tinha nada com isso.

Foram se passando os anos vieram os filhos, três meninas para ser exata. Ele queria um filho homem, ela ainda tentou mais três vezes, mas teve abortos espontâneos.

A situação financeira foi ficando cada dia pior, as meninas começaram a crescerem usavam roupas e sapatos que ganhavam dos outros, e algumas vezes roupas usadas...

Ninguém queria ou podia cuidar das meninas para ela trabalhar.

Deborah começou a vender roupas consignadas de porta em porta, colocava as meninas na escola e nesse período corria para tentar ajudar no orçamento...

Mas nada adiantava, pois até o dinheiro da roupa acabava usando em despesa de casa ou mesmo com Hélio, com isso ficou com nome no SPC e não pode mais vender.

Ela começou a fazer doces para vender, eram deliciosos e rápido conseguiu uma boa clientela, mas acabou perdendo alguns pedidos, pois não tinha dinheiro para comprar os ingredientes para preparar o pedido... Mas ela não desistia, e foi aumentando os clientes, começou entrar algum dinheiro mais grosso, então ela conseguiu comprar mais ingredientes e não perdeu mais nenhum pedido, quando o negocio estava indo de vento em polpa o Hélio resolveu assumir os negócios, afinal, ele era o homem da casa... Deborah no amor cego que tinha deixou assim eles trabalhando juntos com certeza renderia muito mais e unidos venceriam e teriam prosperidade!

Tudo parecia que agora iria funcionar, quando chegou um oficial de justiça com o mandado para levar o fogão industrial por falta de pagamento...

-Como por falta de pagamento? Espera moço meu marido já vai chegar ele foi ao banco, já deve estar voltando...

Em brandos, mas o oficial não pode ou não quis esperar nada.

Quando Hélio chegou, ela estava em desespero, pois sem o fogão tem doces que ela não poderia fazer mais e era o que mais vendiam.

Ele simplesmente disse:

- Sua tonta para de ser idiota, pare de chorar, isso acontece com todo mundo, nós vamos e compramos outro...

Ela se sentiu completamente sem chão:

-Mas Hélio, cadê o dinheiro que você Saia para fazer o pagamento?

-Pronto lá vem você desconfiando de mim? Eu não lhe devo satisfação nenhuma... Afinal sou o homem dessa casa, faço o que bem entendo, ta me entendendo, e se não está bom pra você pega suas roupas e tchau.

Deborah para não assustar mais as filhas do que já estavam, deixou pra lá, mas teve que reduzir a produção e junto à renda também diminuiu.

Muitas necessidades vieram, luz cortada, aluguel atrasado...

E ela nem podia falar a respeito com Hélio.

Quando a menina mais velha completou 15 anos, Deborah nessa época estava com 31 anos, arrumou um emprego. Ensinou a Carla a arrumar casa, fazer comida, cuidar das duas irmãs que também ajudavam com os serviços domésticos.

Hélio nessa época estava com uma gráfica na garagem de casa, onde dinheiro mal entrava para comprar a mistura.

Deborah mesmo não trabalhando fora, era esperta, inteligente e muito esforçada, arrumou um serviço de recepcionista, e logo já foi encaminhada para o departamento financeiro, não ganhava muito, mas ganhava razoável, pagava o aluguel, luz, água e ia aos poucos com muita dificuldade comprando o que as filhas queriam.

E o tempo foi passando...

Ela despertou com o emprego, e começou a cobrar o Hélio uma postura mais ativa em casa, nessa época quase se separou, ele dizia que ela estava o traindo por isso todas aquelas brigas!

Assim se passaram os anos, foi cada vez piorando, uma vez Deborah ficou doente, teve que se afastar do serviço por quatro meses, entrou no INSS, com isso ela ficou três meses sem receber, acabou tudo em casa, o aluguel atrasou dois meses, Carla* já estava com 17 anos e resolveu ir trabalhar, deixando os serviços com a Alessandra* que se encontrava com 15 anos e a caçulinha Renata* com 14 anos.

Quando Hélio conseguia algum serviço e recebia, fazia uma comprinha no mercado e pagava alguma luz, para ele já era suficiente, me lembro que nessa época ajudei-a muito sem ninguém saber.

Toda vez que ela cobrava uma atitude de Hélio ele arrumava brigas, começava a gritar e a falar muitos palavrões, sempre confirmando:

- Eu sou o homem da casa, sei bem o que e como fazer...

Pra mim é fácil, estralo o dedo e sumo, eu não tenho divida nenhuma...

Aquilo era o mesmo que enfiar uma faca no peito de Deborah, ela pensava:

-como não tem divida? Não tem teto? Não come? Não usa luz? Não usa água? Pois roupa, sapato nunca havia comprado mesmo...

- Alô, alô está me ouvindo?

- Desculpe Hélio, mas nem sei o que lhe dizer, um filme me passou em minha mente agora, vocês lutaram e brigaram tanto para ficarem juntos e agora que estão com as filhas criadas, netos chegando... Não sei o que lhe dizer já ligou para alguma filha?

-Já liguei para as três, mas dizem que ela não está lá! Não sei se a estão escondendo, esperei a noite inteira e nada, liguei no celular está desligado, no serviço dizem que está em reunião. Não sei mais aonde procurar, preciso falar com ela, e te garanto se ela não voltar hoje não precisa voltar mais.

Ele continuava com toda sua prepotência e ignorância em que viveram todos esses anos e não conseguiu perceber que sua exibição era ridícula, visto que não possuía nada e nem procurava possuir, se tinha uma casa para morar era porque a família ajudava a pagar as despesas, tive que engolir a seco para não falar nada do que pensava primeiro não falava por causa de minha amiga, não queria perder sua amizade e agora não vale à pena.

- Bom Hélio a única coisa que posso lhe falar no momento é que fique calmo, se ela está no serviço não está sumida, com certeza vocês entraram em um acordo e se eu conseguir falar com ela peço para te ligar ok?

- Ok, muito obrigado, sabe que é mesmo uma amigona! Veja se coloque um pouco de juízo, ela deve estar louca!

- Hélio louca sei que ela não está. Não diga isso de minha amiga, deve ter sido uma briga e um mal entendido.

- Não, não estava brigando, aliás, já tem um bom tempo que não brigamos...

É eu bem sei, pois ela estava tão cansada dele que nem discutir mais discutia...

- Mas ela está louca mesmo, ainda na semana passada me amava tanto que comemoramos nossos 30 anos de casamento perfeito e maravilhoso, você sabe que sou um bom marido, qualquer uma queria ter um como eu.

- Hélio não estamos discutindo a “boa sorte” de minha amiga, você deve ser um bom marido mesmo para ela estar contigo 30 anos, por favor, se acalme, agora tenho que me arrumar para ir trabalhar. Fique calmo, qualquer coisa te ligo certo?

Desligamos e fui tomar banho, mas não conseguia repor meus pensamentos em ordem, pois ela estava mesmo andando dizendo que estava cansada e que queria sumir, mas isso ela fala tem mais de 20 anos...

E a pergunta dele ficou gravada em minha mente, ainda na semana passada me amava e hoje vai embora?

Tentei ligar várias vezes no celular dela, mas só dava caixa postal...

Logo depois do almoço liguei no serviço dela.

-Deborah, como você esta?

-Amiga estou arrasada, não estou conseguindo nem trabalhar, meus pensamentos estão à milhão...

-Não chora amiga, tente ficar calma, onde você passou a noite?

-Então já sabe? Sabia que o Hélio iria te ligar... Eu estou na casa da Renatinha, mas não posso ficar lá.

-Ele me ligou logo cedo, está muito preocupado, confuso, nem sabia o que falava para ele, mas você quer vir para minha casa? Sabe que minhas portas estão sempre abertas para você?

-Não eu quero ir para um canto só meu por enquanto vou ficando com a Renata, ela me acomodou no quarto do nenê.

-Deborah quer conversar? Vamos jantar junto o que acha?

-Então está bem, te encontro às 19h30min no que fomos por ultimo, pois o Hélio não conhece está bom?

-Sim se me atrasar me aguarde, pois hoje tenho uma reunião e não tem hora para encerrar, mas com certeza estarei lá.

Desligamos e não conseguia parar de pensar nela, ainda me parecia tão apaixonada apesar de tudo. Mas tenho que trabalhar, preciso me desligar um pouco a noite saberei mais alguma coisa...

Quando cheguei ao restaurante Deborah já se encontrava saboreando um suco de maracujá.

Cumprimentamo-nos e ela começou descontroladamente a falar:

-Eu não estou mais agüentando, e sei que nem o Hélio, ele apenas disfarça mais...

Mas a partir do quinto ano de casamento, parece que acordei do hipnotismo que me encontrava tudo que a partir daí foi acontecendo para mim era uma enxurrada de coisas ruins que foi enchendo o barril até a semana passada com a ultima gota de faltava...

Desde o começo Hélio era calmo, bem humorado, sempre me tratava como rainha, à mãe dele nos ajudava meus pais também, você sabe amiga, até então eu tinha uma vida boa estável, tinha carro, ia para onde queria, comprava roupas, sapatos, acessórios, enfim tudo que eu queria e como queria, já iria entrar na faculdade, iria ganhar um apartamento dos meus pais, me apaixonei perdidamente pelo Hélio, mesmo contra a vontade de meus pais, abandonei tudo e me casei, o Hélio nessa época era Office boy em uma empresa, onde pensei que até poderia ir subindo de cargo e nossa vida melhoraria.

Mas fomos morar dentro da casa da mãe dele, você lembra, ela me humilhava direto, pois dizia que eu estragava a vida dele... Logo depois foi despedido, pois ao invés de ir fazer os serviços, ficava de papo na rua nunca dava tempo de terminar o que tinha que fazer e uma importante conta não foram pagos trazendo um enorme prejuízo e transtorno à empresa...

Depois arrumou um serviço em um jornal, onde o colocaram de editor...

Logo depois também fora despedido, pois não aceitava sugestão e nem opinião de ninguém, pois ele era o editor, se sentia superior...

Nessa época engravidei, a mãe dele ficou uma fera, que eu fazia de propósito só para acabar com a vida do filho dela...

Hélio ficou eufórico, queria um filho homem, arrumou até um curso para fazer de refrigeração e outro de eletrônica.

Ele é muito inteligente, logo no curso de refrigeração arrumaram um estagio para ele em uma fabrica enorme, ele aceitou e eu fiquei muito empolgada, pois acreditava que no estagio efetivariam e poderíamos alugar uma casa para nós... Mas não duraram três meses, onde já se viu os “caras” querem ensiná-lo? É um absurdo eu não admito isso, essas foram suas palavras quando chegou a casa, meus sonhos se desmancharam eu não suportava mais olhar para a mãe dele e eu passava o dia com ela reclamando, me ofendendo, me humilhando, tudo ela implicava não nos deixava cinco minutos sozinhos, estava sempre se intrometendo em nossos assuntos, quando perdi o nenê, já estava com quatro meses e era um menino...

Hélio tentou me consolar, mas minha dor foi grande e minha sogra dizia que nem para ser mãe eu prestava...

Nessa época Hélio terminou os cursos, começou a trabalhar em outra empresa, não tão grande, mas era um bom salário, afinal não podiam ficar sem os refrigeradores e os ares condicionado...

Ele começou a se empolgar não faltava, nem reclamava que tinha que ir trabalhar, fazia horas extras, muitas vezes trabalhava até no domingo eu quase não o via mais...

Mas no final do mês recebia e até recebia bem, comecei a procurar uma casa para nos mudar, mas tudo que eu encontrava ele colocava obstáculos, um dia ele chegou todo eufórico.

-Amor encontrei uma casinha ótima para nós, e vai dar para abrir uma loja de eletrônica e refrigerador, o próprio serviço irá pagar o aluguel, amanhã iremos vê-la, mas tenho certeza que ira gostar...

E fomos mesmo, era longe a impressão que nunca chegaríamos... E ainda comentou não se preocupe parece longe, mas para nós o que importa é ficarmos bem, e morar longe de nossos pais irá ser ate melhor, daqui pegarei um ônibus só para o serviço e ainda poderei ir montando nosso próprio negocio.

Era uma garagem onde provavelmente caberia um carro e deixaria ainda espaço e um salão grande, cozinha pequena e um banheiro menor ainda.

E ele começou a falar sem parar: aqui colocaremos uma divisória, sabe que eu sei fazer e será nosso quarto aqui a sala, fecho aqui com uma porta e ali nosso comercio! Não é maravilhoso?

-Sim Hélio, mas como encontrou esse lugar tão longe?

-Amor não vai acreditar, minha chefa é dona desse imóvel e me ofereceu, sem eu falar nada, ela precisa de alguém que cuide daqui, para não ser invadido e nem apedrejado, irá nos cobrar um aluguel simbólico, poderemos comprar os moveis.

Amiga era um lugar horrível, bem próximo a favelas casas horrível, mas pensei que seria melhor do que agüentar mais a mãe dele e aceitei, afinal confiava nele, logo ele me tiraria dali para um lugar mais decente, a mais detalhe bem na esquina tinha um forró...

Já tínhamos a cama, guarda roupa e uma TV.

Ele arrumou um fogão usado com sua chefa... E nos mudamos.

Os dias eram horríveis não tinha dinheiro para ir a nenhum lugar, era um lugar violento que a noite houve um tiroteio e eu fiquei apavorada, ele trabalhando muito afinal agora tinha que pagar também o aluguel... Mas amiga eu tinha esperanças que ele logo me tiraria dali, nessa época engravidei da Carla, e nada mudava amiga, apenas comecei a passar muito mal e sempre sozinha naquele lugar horrível e nada dele começar a fazer serviço em casa, afinal, lá às pessoas não teriam dinheiro para paga-lo, pelo menos essa era sua desculpa e eu amiga

Ainda o admirava e achava que estava tudo aquilo para nosso bem... Quando estava de seis meses, minha barriga já bem saliente tinha uma consulta marcada, como era próxima a empresa que ele trabalhava, quis fazer uma surpresa, passei pela consulta e fui toda feliz almoçar com ele, quando cheguei lá ele estava rindo e falando sem parar e uma moça ria e gesticulava bastante, batia em seu braço na maior intimidade, quando ele me viu amiga... Pensei que iria pular encima de mim, o sorriso sumiu e uma baita cara feia apareceu!

-o que você está fazendo aqui? Está me vigiando? Não sabe que estou trabalhando? Vá agora mesmo para casa... E nem pense em chorar, e também não sei se irei voltar hoje.

-Como assim? Não sabe se ira voltar?

-Eu não suporto mulher no meu pé, você não tem nada para xeretar aqui, vá embora agora.

Eu sai dali, mas nem enxergava o que tinha na minha frente, quando senti uma forte tontura me segurei em um poste e não me lembro de mais nada, apenas que acordei em um pronto socorro rodeada de gente desconhecidas me perguntando meu nome? Onde morava? Se eu tinha algum telefone? Alguém que pudessem chamar?

-Eu não sabia o que estava acontecendo tudo rodava a minha frente, queria saber somente do meu bebe se estava tudo bem?

-sim esta tudo bem sim você perdeu os sentidos e lhe trouxeram para cá, quem podemos chamar?

-eu apenas me lembrei do cartãozinho do Hélio, pois nem imaginava onde eu estava!

Aqui é o serviço do meu marido.

O hospital o chamou rapidinho ele estava lá junto com aquela moça que o trouxe de carro.

Ele estava preocupado, mas também com muita raiva.

Saiu do quarto para ir procurar o medico e deixou aquela mulher lá me olhando...

Eu perguntei: quem é você?

-Eu sou a patroa dele, me chamo Marina* prazer e você?

-Sou Deborah, esposa dele?

-Esposa?! Dize-me assustada e admirada. Eu não sabia que ele era casado!

Eu não falei nada apenas a olhei. E ela notou minha barriga e perguntou se estava grávida.

-Sim estou de seis meses! Mas você é a patroa e não sabia que ele era casado e nem que vai ser papai? Não foi você que alugou a casa para nós?

- para vocês? Ele me disse que iria morar com sua mãe que se encontrava muito doente.

-Você está namorando ele? Perguntei.

Nisso ele entrou no quarto com o medico.

-Ela está com anemia profunda, não tem se alimentado direito, ou se alimento muito mal.

Ela tem que mudar a alimentação até o momento não afetou o feto, mas ela poderá até abortar.

Fiquei internada quatro dias e ele só voltou no dia da alta para me buscar.

E ai fiquei sabendo que tínhamos que voltar para a casa da mãe dele, pois ele estava desempregado, fora demitido e teria 30 dias para desocupar a casa...

-Você estava tendo um caso com ela não é Hélio?

-Não imagina, você é louca, é ciumenta, vê cabelo em ovo, não vai começar? Senão nem para a casa vou...

Depois de alguns dias que estávamos ainda naquela casa, chega um carro, e desce quem? A Marina, muito bem arrumada, nariz empinado, procurando pelo Hélio, ele sai às pressas fechando a porta da sala, mas fui atrás.

Ela estava muito nervosa. Perguntou por que ainda não havia desocupado o imóvel? Ele muito arrogante:

-não se preocupe eu já vou sair dessa sua porcaria, quer saber hoje mesmo.

-ótimo ela respondeu depois vai ter que deixar as chaves em minhas mãos.

-Espere um pouco Marina, dize... O que esta acontecendo? Vocês têm um caso?

-ele ficou todo raivoso, mas ela me confirmou que sim, mas que não sabia que eu existia.

E que agora não tem mais nada com aquela babaca. Virou e foi embora.

-ele virou uma fera, pensei ate que iria me agredir, entrou em casa e quebrou o fogão, rasgou o sofá, só ficou inteiro o colchão e a cama e o violão dele.

-fiquei apavorada com aquela violência toda, Hélio nunca me pareceu violento.

Assim que mudamos para essa casa, ou melhor, para esse buraco ele por três vezes atirou o prato cheio de comida na hora da janta dando uma de nervoso comigo e foi comida até o teto, eu com muita raiva limpei como se fosse uma idiota, no primeiro prato atacado eu deveria ter largado amiga, mas não enxergava nada, e como casei contra vontade dos meus pais, não queria dar o braço a torcer...

Deborah caiu em um choro descontrolável.

Eu tentava consolar, mas tinha muitos detalhes dessa historia que soube agora e também estava estupefata, minha amiga que sempre foi o xodó dos pais, era tratada como rainha passou por tudo isso e sem ninguém saber.

Quando ela se recuperou um pouco ela continuou, ainda lhe disse:

-Deborah não quer jantar e deixar esse assunto para depois?

-Não consigo nem comer, por favor, me deixe falar, ou estou te enchendo?

-Isso nunca pode falar o que e como quiser, só pensei em você se sentir mais calma.

-Então, por favor, me escute tudo isso tenho entalado na garganta e em meu coração, talvez dessa forma, colocando para fora eu me sinta com menos dor...

-Lógico Debby (assim eu a chamava desde que éramos crianças...) e ela se esforçou para me dar um sorriso.

-Bem voltamos para a casa da mãe dele, a Marina iria nos colocar na rua, não tínhamos para onde irmos...

-Fomos recebidos na maior felicidade... Que durou até o outro dia quando o Hélio saiu, dizendo que iria procurar emprego.

-D. Tereza* começou a esbravejar me ofender, me humilhar, dizendo inclusive que eu não tinha vergonha na cara de continuar com o filho dela, que era um homem descabeçado e que não tinha mais jeito...

-Eu apenas consegui dizer a ela: mas ele é muito bom para mim!

_Bom? Bom aonde? Em que?

-Hoje me lembro dessa frase em minha cabeça me martelando, e o pior minha amiga é que ela tinha razão! Bom? Onde? Me fez chorar varias vezes, passei humilhação, privação, necessidades básicas com ele, e quando ele me via chorar ainda com olhar de sarcasmo me dizia:

- isso mesmo sua “tansa” chore bastante, vá tomar seus remedinhos!

Se referindo aos meus remédios de anemia que meus pais me compravam, pois nem para isso ele ganhava e não se importava.

Um dia sua mãe falou:

-Hélio sabe que essa casa é de herança que recebi de minha vó, quando eu morrer ficará para você e suas duas irmãs mesmo, já falei com elas e vamos fazer o seguinte:

-Sua parte já lhe darei, não de nome, mas de palavra e faremos um quarto e cozinha para você de, pois quando você puder fará mais um cômodo e na garagem pode abrir seu comercio o que acha?

-Eu vi uma luz no túnel, assim poderíamos juntar dinheiro e sairmos de lá, montarmos nosso lar...

-mas logo virou trevas... Pois ele até se endividou para comprar ferramentas, sempre foi caprichoso, encontrou no lixo uma escrivaninha que ele mesmo arrumou, envernizou que até ficou bonitinha, ele mesmo fez a placa e a faixa para colocar encima, fazendo a propaganda:

Refrigeração e eletrônico professor Pardal:

Arruma-se geladeira, freezer, maquina de lavar roupas, fogão, televisão, eletrodomésticos.

Atende a domicilio também.

-Ficou até bonita, eu estava com os nove meses completos e as únicas roupinhas que tinha eram que minhas cunhadas e irmã tinham me dado, não tive o prazer de ir à loja e escolher nem mesmo uma fralda, nem chupeta.

-Começando orando para entrar clientes, e amiga entrava muita gente, mas era apenas para papear, pois sabe que Hélio sempre foi muito comunicativo, às vezes chegava até ter entre quatro ou cinco pessoas de uma só vez, e lá contavam piadas, a vida dos vizinhos, e como sempre era o Hélio que falava, falava, parecia um sem-noção...

Eu não tinha nem o que colocar nas panelas e ele lá falando o que ele sabia fazer que desde pequeno seu apelido era professor Pardal, pois vivia inventando e bolando artes, que ele sabe pintar tela, sabe fazer esculturas, sabe fazer brinquedos de madeira, ele é um artesão, e que adora tocar violão e sabe tocar... E por ai vai... E eu? Eu lá esperando o nenê nascer, o dinheiro entrar, a mãe de ele ter piedade e nos dar almoço... E ele? Lá se exibindo como um idiota, pois não tinha nem onde cair morto, mas a posse...

Assim que Carla nasceu e eu me recuperei, precisava ir trabalhar, mas não consegui vaga em creche, minha mãe além de morar longe trabalhava, e minha sogra disse que neto nunca cuidaria! Quando soube que minha vizinha pregava pedraria, fazia bordados para uma confecção em casa. Fui conversar com ela para também ver se pegava e ela muito amável me levou na casa onde poderia pegar e comecei, lá mesmo ensinava, pagavam pouca à peça, mas poderia ter produção e talvez até ganhar um dinheiro para ajudar em casa.

-Achei muito difícil, pois não sabia nem costurar, quanto mais bordar e pregar as pedrarias, mas por incrível que pareça aprendi até com certa facilidade e meu primeiro trabalho fiz 15 peças e fui muito elogiada, modestamente foi o melhor trabalho que eram em saias de tecidos muito fino e caro... Carla era um bebe muito calmo e tranqüilo, na hora de mamar, mamava muito e dormia bastante, com isso fui aumentando minha produção, mesmo com incríveis dores nas costas e nas mãos, acordava 4 horas da manhã limpava a casa, sem fazer barulho para não acordar o Hélio nem a nenê, aproveitava ainda o silencio da madrugada e adiantava as peças, quando Hélio acordava por volta das 06h30min. O café já estava pronto, eu o servia e tomava o desjejum com ele, a Carla me acordava já dava o banho nela, mamava brincava um pouco com ela no carrinho e ia para o tanque lavar roupa, enquanto eu fazia isso ia conversando e balançava o carrinho sempre que passava por ele e Carla ria muito, procurava colocar as roupas antes das 09h00min. Para minha sogra não aparecer no quintal e vir palpitar... Pois até como eu colocava as roupas no varal para ela era errado... O meu dinheiro era pouco, alias muito pouco, mas não faltou mais arroz, feijão uma mistura, leite em casa.

Um dia eu havia acabado de lavar as roupas brancas tinham dois varais lotados, não havia cimento no quintal era terra e havia chovido, então estava barro, quanto um lado que estava pregado com uma madeira se desprendeu e minha roupa branca caiu no barro, eu gritei Hélio vem aqui me ajudar, ele veio e levantou o meio do varal, eu estava histérica, não pega lá na ponta, nesse meio tempo minha sogra já estava lá xeretando, amiga o Hélio esfregou todas as minhas roupas no barro, porque eu tinha gritado com ele, e com ele ninguém grita...

Isso amiga faz tantos anos e até hoje não me esqueço e novamente a frase da mãe dele veio em minha mente:_Bom? Bom aonde?

Minha vontade foi sumir, mas para casa dos meus pais eu não podia, afinal fui contra eles, não queria que soubessem que eu passava para dar razão a eles. E pensando em minha filha fiquei, mas já com o propósito de abandoná-lo mesmo o amando eu não aceitaria mais essa falta de consideração comigo. Voltei para o tanque e coloquei as roupas de molho, fui para dentro e fui pregar minhas pedrarias, pois tinha que entregar no outro dia. Minha sogra entrou também e começou a falar, falar, falar... Eu coloquei Carla no carrinho e sai andando, andei tanto que quando dei por mim meus pés estavam inchados e cansados, sentei no muro de uma casa, dei de mamar a nenê, descansei um pouco e comecei a volta, quando entrei no quintal ela estava sentada em uma cadeira com ar arrogante me perguntando onde eu tinha ido?

-Por favor, d. Tereza agora não! Por favor! Amiga acredita que estava soltando fogo pelos olhos, pois ela não veio atrás e nem falou mais nada.

Depois disso fiquei sem poder ver Hélio na minha frente, o pior que a casa era pequena... Não tinha muito aonde “se esconder”...

Mas foram os dias que minha produção cresceu e deu até um dinheirinho extra...

E tudo que recebia ia a casa, pois não tínhamos alimento quase nenhum...

Bom minha cara amiga, encurtando a historia...

Nasceu a Carla, depois a Alessandra e a Renata, depois sabes que tive três abortos espontâneos.

Em um desses abortos, passei a noite inteira com dor passando mal, com as meninas ainda pequenas...

Minha sogra nessa época dize que eu era muito dengosa e que isso era frescura.

Se ele acreditou na mãe ou não. Não sei, só sei que passei a noite andando pela casa não querendo acordar as crianças, e ele dormindo como uma pedra ou fingindo que estava dormindo, não sei mais nada.

No outro dia dize pelo amor de deus me leve ao hospital eu não agüento mais!

Eu não posso fechar o comércio, comércio não se fecha...

Estava com tanta dor que não conseguia pensar, sem dinheiro para variar...

Chamei a sogra e pedi para ela dar café para as meninas e olharem elas um pouco...

Sai de casa sozinha e Deus, quase me rastejando... vi um taxi parado e mesmo morrendo de vergonha pedi para me levar ao pronto socorro e que assim que tivesse o dinheiro eu pagaria a corrida. Depois disso nem me lembro de mais nada, quando voltei em mim uma enfermeira me dize, não tente falar você está com um tubo que vai até o estomago, agora que acordou iremos tirá-lo.

Minha cabeça misturava os pensamentos e tudo rodava a minha volta, depois eu soube, desmaiei dentro do taxi o rapaz me conhecia, pois o ponto de taxi era na esquina de casa, e foi avisar o Hélio, eu estava lá já tinha quatro dias, pensaram que eu não acordaria mais, perdi muito sangue, minha anemia aumentou, e ai perguntei:- e meu bebe?

Soube que tinha perdido estava de cinco meses, foi muito difícil.

Mas voltei para casa em uma enorme depressão.

Minha única alegria eram minhas meninas que estavam crescendo e eu sem poder oferecer nada, roupas usavam usadas ou que a tia dava, minha irmã.

Minhas meninas já estavam grandinhas mais ou menos a Carla já estava com 10 anos, e nós ainda estávamos do mesmo jeitinho, no quarto e cozinha que a sogra tinha feito, ele na garagem, e parece que tudo que fui passando cada dia acordava com mais vontade de mudar de vida, eu não agüentava mais, um dia cheguei no “comércio” a porta fechada!

O vizinho disse que ele tinha ido ao pronto socorro;

-ao pronto socorro? O que houve?

-não se preocupe dona Deborah! Foi o Virgílio* que se sentiu mal e o Pardal o levou...

Amiga, aquilo acabou comigo, quer dizer que eu ele não podia acompanhar, pois comercio não fica fechado e esse Virgilio era um vizinho que tinha uma vidraçaria, que além de falar mal do Hélio no bairro inteiro, dizia que ele não sabia arrumar nada só sabia cobrar caro, e ainda uma época ele queria sócio do Hélio, e colocou o Hélio para fora da vidraçaria aos berros, como se Hélio fosse um cão sarnento...

Voltou somente à noite, quando fui falar...

Pronto ele virou um bicho! Que eu sou ruim, não sei ajudar ninguém, que iria morrer completamente sozinha...

Ofendeu-me, me falou mal, colocou minha mãe no meio... E tudo na frente das meninas que olhavam completamente assustadas...

Pois é eu podia ir me contorcendo de dor que não fazia mal, ele como é muito bom

Levou o vizinho afinal todo mundo iria dizer:

-olha como o Hélio é gente boa, o Virgilio fala mal dele pra todo mundo e o cara ainda leva ele para o pronto socorro!

Amiga ele vivi querendo mostrar para os outros como ele é bom é bam bam bam....

Eu fui vendo cruelmente o lado oposto dele, afinal convivia com ele, não tinha como não ver.

Um dia cheguei ao comercio (assim que ele gostava de chamar) as meninas estavam na escola e eu sentei um pouco lá...

Ele ficou de cara feia, calado, nervoso, quando chegou um cliente com uma geladeira em uma caminhonete.

-Boa tarde! Olha estou com essa geladeira um rapaz me dize que é o gás é não sei mais o que e me cobrou uma nota, o senhor poderia, por favor, me fazer um orçamento?

Ele começou o discurso:

- é assim mesmo o senhor já passou em tudo que é lugar, todo mundo mexeu agora vem aqui com essa tranqueira e quando eu lhe der o orçamento nem dinheiro para fazer o senhor vai ter!

- Mas o senhor não pode nem olhar, eu aluguei a caminhonete para resolver esse problema, e me dizer quanto fica? O senhor ainda insistiu.

-Não eu não posso o senhor vai aqui à rua de trás no Francisco* ele arruma e com preço bem bom...

O homem saiu cabisbaixo e foi...

Eu comentei nossa não podia fazer nem um orçamento?

Você fica quieta, por que aqui você não entende de nada, você entende lá em casa onde deveria estar aqui mando eu...

Eu iria responder quando chega um cara com uma TV portátil na maior alegria:

-Pardal meu, você é o cara, minha mulher estava assistindo e de repente parou meu

Do nada...

-Oh brother! Deixa comigo.

- eu fui para casa, mas vi-o desmontando a TV toda...

Passaram mais de meia hora e sai para buscar as meninas na escola, ele ainda estava lá falando, falando, ensinando, mostrando...

Voltei a TV já estava fechada e funcionando!

Pensei puxa vou poder comprar pelo menos ovos para a janta...

Notei que o rapaz tinha ido embora e fui pegar o dinheiro para ir à quitanda.

Nossa que dinheiro?

-como hélio que dinheiro você não arrumou a TV?

- que arrumou, você é uma tonta era só o fiozinho da tomada que escapou, vou cobrar o que?

No outro dia quando levei as meninas para a escola fiz questão de passar na rua de trás. A geladeira que o Hélio dispensou estava lá. Banquei a cara de pau e perguntei;

- nossa ficou pronta?

-não ainda não estou esperando uma peça chegar, mas ficar ótima cobrei caro, mas ainda é bem mais barato que a nova.

-é mesmo e o rapaz vai ter o dinheiro para pagar?

- ele já pagou metade e sabe que amanhã estará pronta e tem que trazer o restante.

-nisso ele me pediu uma licencinha e foi abrir o portão de sua casa para sua esposa sair com o carro.

Nisso fiquei observando, estava cheio de serviço, estava no balcão trabalhando, tinha muitos eletrodomésticos alguns inclusive a venda, geladeiras tinha mais de cinco e duas era para a venda eu continuei:

- o senhor também vende?

-lógico a gente tem que se virar, quando vem pessoas que acham o conserto caro e não podem pagar o conserto eu compro bem baratinho, arrumo que para mim sai em conta e revendo. E mesmo os que não vem retirar no prazo de 90 dias vão a venda esta bem grande, grifado no recibo, aliás, fica minha maior renda.

- me despedi e voltei para casa, chegando próxima ouvi uma musica até alta, vozes cantando, reconheci a voz do Hélio, minhas pernas bambearam, quando cheguei à porta do comercio...

Estava Hélio tocando violão, um cara que levou o teclado outro com pandeiro, como se o “comércio” dele fosse um boteco... Entrei com uma cara feia, não que eles tivessem culpa, o único culpado é Hélio, e continuaram como se nada acontecesse, Hélio me dize:

Olha amor, o Tião* é compositor, nossa o cara é um gênio.

Realmente amiga ela deveria ser um gênio mesmo, muito mais que eu, afinal ele era compositor e sua profissão era recolher papelão na rua, ele não é um gênio?

Aliás, esse Tião, ele era muito educado, morava na casa da irmã e todas as tardes quando terminava seu serviço, ele precisava ir bater um papo com o grande Pardal, nossa assim trocamos idéias composições... Tudo muito maravilhoso, apenas amiga com uma pequena diferença, o Tião, homem humilde, trabalhador, com certeza recebeu o dinheirinho dele pelo dia, enquanto o gênio do Pardal com o bolso mais vazio do que saiu da cama pela manhã...

E para variar não tínhamos mistura nenhuma para darmos para as meninas.

Iríamos comer arroz, arroz puro, pois o feijão tinha acabado.

E nisso ele vai melhorar, tudo vai andar, vamos ter nossa casinha nem se for de aluguel, vou poder comprar as coisas para minhas filhas que estão crescendo, poderei me vestir melhor, amanhã é outro dia, tudo vai ser diferente, oba... Esta chegando o ano novo... Vida nova...

Nisso amiga quando me dei conta já haviam passado mais de vinte anos...

Arrumei um serviço, saia 6 h da manhã, pegava dois ônibus trabalhava até as 18 h e retornava em casa as 21 h. Literalmente cansada, morta, pois os ônibus voltavam lotados, eu vinha de pé neles, ainda chegava e tinha que passar a roupa, pois Carla fazia tudo, mas passar ainda estava aprendendo...

Nesse período meu pai me deu de aniversário um carrinho, não era novo, mas estava bem conservado, afinal tinha sido dele. Estava cansado de me ver andando de ônibus...

Mas tive que continuar de ônibus, pois o que ganhava não dava para as despesas de casa e gasolina também, nessa época o carro ficou em casa e o Hélio passou a usá-lo direto com a posse que ele tinha comprado que era dele.

Para a gasolina e cigarro ele sempre tinha.

Procurei uma casinha, pequena, alugamos e mudamos, ele abriu o comercio na garagem...

Um dia cheguei a casa havia chovido muito, cheguei já eram mais de 22 h. O Hélio não estava Carla me dize que ele tinha levado o dono do mercadinho no Atacadão e ainda não tinha voltado.

- Como é Carla levou o cara do mercadinho no Atacadão? Ele sempre faz isso?

-Mãe ele já fez três vezes, mas nunca demorou tanto assim.

- e ele levou o homem às compras com o meu carro?

- foi mãe.

-quando ele chegou, nossa eu nem enxergava o que tinha na minha frente, amiga tive um acesso de loucura falei que era um absurdo, eu enfrentando transito e condução e ele levanto os outros a compras?

-você é ignorante mesmo, foi à primeira vez, o cara nunca me pediu nada, o carro dele está reformando, não custa nada, ele pagou a gasolina.

- no outro dia amiga fui de carro para o trabalho deixando Hélio reclamando e bufando.

Cheguei ao trabalho, logo em seguida o Hélio me ligou, perguntando por que fui de carro?

-oras o presente é meu não vou mais pegar ônibus, na certa chegarei mais cedo...

-cheguei mesmo mais cedo amiga, peguei os atalhos que conhecia e não precisei ficar esperando ônibus as 19 h estava em casa.

-essas e outras mais que foram acontecendo...

- agora o que vou lhe contar quero que fique somente entre nós duas, pois tenho uma imensa vergonha...

No ano retrasado assim que Renata se casou, era um domingo estávamos todos em casa para o almoço quando chamaram no portão.

Eu fui atender e reconheci de imediato a Marina, sim a primeira amante do Hélio.

Ela estava com uma moça muito bonita, parecida com a minha Alessandra...

E ai veio à descoberta: era filha dele, Carla estava com 26 anos e a Sonia* estava com 25, diferença que não chegava um ano.

Nossa me senti mal, tive tonturas, mas tentei me manter por perto e bem atenta.

Marina começou a falar:

- o sonho dela era rever o pai, afinal, ela não se lembra, não queremos nada material, apenas o carinho...

-ele abraçou beijou, ficou todo emocionado...

Falou como um tonto, tantas besteiras.

Enfim para mim terminou de acabar com meu mundo, mas vinha coisa pior...

Lógico que ele as colocou para dentro de casa, e ainda queria que eu fizesse um café, eu estava tão atordoada, que nem me levantei e nem respondi.

Soube amiga que depois eles ainda continuaram tento um caso e a ultima vez que a menina o viu ela estava com quatro anos, enfim fui enganada durante quatro anos, passando tantas necessidades, tanta humilhação, tanta vergonha, por nada...

Depois dessa maravilhosa visita, a Sonia passou a telefonar sempre, quase todos os dias, vinha no domingo com os filhos, que eram dois, eu trabalhava a semana inteira, sábado fazia faxina na casa e no domingo que queria descansar... Enfim, meus finais de semana passaram a ser um verdadeiro inferno, não tínhamos nem para nós e ainda vinham mais três bocas.

O Hélio simplesmente caiu de amores pela filha, e esqueceu-se das suas, as suas tudo que elas faziam não interessavam, era errado, não tinha diferença, elas eram tontas, em compensação o que Sonia dizia era para ser executado, ela era um gênio. Para mim era uma louca completa,

Completamente irresponsável, nem os estudos terminou, nem se casou, e cada semana era um namorado, mas ela era tudo de bom e de maravilhoso.

Não adiantava eu falar para ele nada, agora me diga amiga você: que amor tão grande é esse? Que abandonou a menina pequena, nunca quis saber, escondeu sempre de mim e das meninas e agora ele quer simplesmente que eu finja que nada havia acontecido, as meninas a tratem como irmã? Ela invade minha casa e fica falando da família dela e da mãezinha dela, as crianças bagunçando, sem educação, infernizando meu domingo, trabalho como uma louca no domingo, fico magoada, ofendida e na segunda tenho que madrugar para trabalhar, e ele ainda dizem que é bom para mim?

Ainda por cima a semana passada a Sonia trouxe a Marina também, foi à gota de água que faltava amiga... É muita falta de consideração comigo... E ela teve mais um choro compulsivo...

Depois continuou:

Eu fui analisando tudo isso amiga, sabe a Renata ele tem uma implicância com ela tremenda até dói em mim, parece que ele a rejeita de todas as formas, piorou muito com o aparecimento da Sonia. Eu recebo pago o aluguel, luz. Água, e ele comprava algumas coisinhas no mercado quando ele faz algum servicinho e entra uns trocos?

Então resolvi: ele fica com a filha maravilhosa, se quiser também fique com a mãe dela, forme a família que ele sonhou, pois eu estou fora, amo ainda ele muito, mas cheguei à conclusão que necessito ser feliz pelo menos um pouco, minhas filhas não dependem mais de mim, o que ganho sobreviverei talvez não com luxo, mas em paz, tranqüilidade e procurarei de todas as maneiras e formas a felicidades.

Ele com certeza ficara bem e feliz, já que garante que o que ele ganha ele vive e vive bem se não tivesse as minhas contas!

-Minhas contas? Manter a casa é minhas contas? Então eu pago sozinha.

Eu não agüento mais ser traída de todas as formas e maneiras

-Deborah, não está fazendo as coisas precipitadas?

-Precipitadas? Ela até gritou e todos olharam...

-Esperar mais de 25 anos é precipitar amiga? Diga-me!

-Bom nem tem o que dizer, somente repito o que precisar conte comigo.

-Eu sei e lhe agradeço imensamente, mas apesar da grande dor da perda, estou aliviada, parece que me tiraram toneladas de cima do ombro.

Assim que arrumar um canto lhe aviso, agora vamos embora senão quem vai se divorciar é você... rsrsrsrsrsrs

- Deborah eu não corro esse risco, comigo está tudo na mais perfeita paz, com alguns probleminhas lógicos, mas nada que me tire a felicidades ou o amor verdadeiro.

Assim nos despedimos, e fui para casa tentando absorver tantas informações que eu não conhecia e foi um choque saber que minha amiga que tanto amo passou por essas coisas horríveis, porque será que ela uma mulher tão bonita, filha de pessoas de posses, inteligente agüentou tudo isso? Por amor? E o amor acabou? E como Hélio me perguntou: a semana passada me amava e hoje não mais?

Cheguei a casa meu marido me aguardava assistindo televisão.

-Olhei para ele e pensei:

-Eu dei muita sorte, temos uns probleminhas, mas nada que não possamos superar

Irmos em frente e até esquecermos, nada de mágoas ou ressentimentos, pois isso que detona qualquer convivência encobre qualquer amor.

Reencontrei Deborah pessoalmente depois de quatro meses, antes falávamos apenas por telefone, ela estava linda, havia remoçado arrumadinha, cabelo pintado, estava morando em uma kitinete que a Alessandra comprou para ela, tudo simples, mas tudo muito arrumado cheio de enfeites, ela feliz, pois havia comprado tudo alguns inclusive usados, mas pagou tudo, não devia nada, me contou que Hélio ainda a perturbava, ele sabe que o amo muito, mas em nome desse amor eu quero distancia dele, não quero morrer viva, quero viver e deixá-lo viver também. Assim que se separaram a Sonia e Marina mudaram e não deixaram endereço, diz ele que perdeu o contato e que tinha voltado para a casa da mãe e Deborah ainda sorrindo concluiu:

-Eles se merecem amiga, e se os tesouros da vida dele sumiram ou não é um problema dele, não quero nem saber, eu só espero que ele seja feliz e me esqueça.

-Ainda sofro muito, sinto saudades, e quando sinto falta, aquela vontade de procurá-lo e tentar recomeçar... Fecho-me em meu quarto e como um filme passa todos os momentos ruins e difíceis que passei choro muito, me recomponho e continuo em frente...

Pois eu o amo... Mas sei que um dia o esquecerei... e descobri que me amo muito mais.

Autora: (Cyda Ferraz)

Cyda Rigamonti
Enviado por Cyda Rigamonti em 31/01/2009
Reeditado em 31/01/2009
Código do texto: T1415320
Classificação de conteúdo: seguro