A GRUTA BAIANA DE JATAI
Quem passasse pela avenida Goiás na cidade de Jataí, estado de Goiás nas décadas de 60, 70 e início dos anos oitenta, forçosamente acabaria por conhecer a Gruta Baiana, que na verdade era um bar. Um misto de bar, cassino e universidade, se é que se pode denomina-la assim. Era o “point” da cidade onde se reunia desocupados, corretores de imóveis, pescadores, contadores de causos, jogadores de futebol, pensadores, poetas, advogados, políticos e toda a sorte de gente que apresentava um certo grau de curiosidade.Era uma verdadeira vitrine da cidade, uma espécie de Calçada da Fama.
Além desses, havia também os jogadores de “Snooker” e de Dominó. Era comum ver-se uma disputa de sinuca entre o Miltinho e Roberto, talvez os maiores astros de todos os tempos dessa modalidade de esporte na cidade dos Vilelas. Havia ainda o Figueiredo do Cartório, um mestre, e jogador clássico da sinuca, que até hoje o pratica na cidade de Goiânia, para onde se mudou. Tinha ainda o Juarez do Bié, outro excepcional jogador que era também considerado um Taco de Ouro do “Snooker”. No Dominó, são tantos os jogadores que citarei apenas alguns, como o William Cintra, o Dionísio do Pronto Socorro e tantos outros.
Quem era da cidade, como eu, mas residia em outras cidades, quando lá ia, tinha quase como obrigação passar por lá a fim de colocar o papo em dia e ficar sabendo das atualidades da “City”. Parecia uma universidade pois assuntos médicos e jurídicos também lá eram comentados. Enfim, era uma escola perfeita da vida e quem passasse por lá certamente aumentaria um pouquinho mais seu conhecimento geral. Quem daquela época não se recorda com saudades do Quibe Assado do Dudú, proprietário do bar, descendente de libaneses e cidadão jataiense, que nos oferecia essa especialidade da culinária árabe que só ele sabia fabricar de tão apetitoso que era? E da Cachaça de Engenho que só lá tinha e que se você não tivesse dinheiro, haveria sempre alguém para lhe oferecer gratuitamente uma boa talagada? Enfim, a Gruta Baiana era uma confraria do bem, um referencial da cidade que marcou época na cidade abelha, e, embora fosse um Bar, deveria ter sido tombada pelo poder público e, se assim fôsse, eu não precisaria estar aqui brigando com as letras tentando transmitir às novas gerações uma parte da memória da cidade que se esvaiu, mas que ficou indelevelmente marcada na memória contemporânea dos jataienses.