O barquinho do Vovô Sebastião.
Nuvens pretas estavam por perto, a chuva se aproximava. Era hora de recolher. Poucos minutos depois lá vinha a forte chuva e, com ela, a enxurrada com sua lama de cor avermelhada. Ainda não existiam as galerias. E aos poucos, a correnteza ganhava velocidade, criava profundas valetas.
– Entra pra dentro menino!!.
Meio a contragosto respeitávamos. A brincadeira, porém, tinha de continuar; afinal, crianças gostam de brincar. Algumas folhas brancas eram arrancadas do caderno grampeado; depois, dobradas e, como mágica, transformavam-se em pequenos barquinhos, nossos navios, colocados na aventura da enxurrada.
Olhares preocupados acompanhavam os pequenos barcos até o final da descida da rua. Alguns nem lá chegavam; outros, no entanto, ultrapassado o mar de lama, dobravam o nosso cabo da boa esperança. Pensávamos: “Eles ganharão o mundo e chegarão ao mar”
– Vai, barquinho. Vai e segue para o mar...
E lá ia o barquinho, descendo a rua Primeiro de Maio.
*
Quando se deu conta da realidade e olhou para aquela criança, ela já dormia. Ficou, então, olhando filho dormir.
Na noite seguinte, antes de se deitar, o menino perguntava:
– Pai, o senhor vai contar outra história? Ah conta, Pai!
Anos depois, uma família segue rumo as férias. Era Verão, mês de janeiro. Outro menino estava na janela de um apartamento e, espantado, vê surgir no mar um tom branco, cada vês maior. O menino então correu até o pai, puxando-o para a janela. Disse:
– Pai, pai! Veja, pai!
- O quê, meu filho?
- O barquinho do vovô. Tá chegando, pai! É o barquinho!
Um transatlântico branco se contrastava com o azul do fim de tarde, em São Sebastião.