Porção eterna
Tudo na vida é princípio, meio e fim.
E entre eles vários pontos de eternidades possíveis...
Por toda a vida caminharia sobre eles, reticente, religando os passos, buscando o contorno da sua porção eterna.
...um ponto de luz,
outro de cor violeta,
mais um com gosto de alcaçuz,
outro asa de borboleta...
Parecia fácil e seguro o trajeto, era só intercalar uns traços de paciência e seguir as reticências...
Quando ouvia alguém dizer prá sempre, sentia um tremor por dentro e imaginava o eterno como o céu que seus olhos abrigavam.
Sobrevoava o efêmero, em seu cavalo de nuvem, com o poder que a sua porção conferia.
Cavalgava atravessando todas as possibilidades que se criavam em torno do seu cavalo cercado de borboletas deixando um rastro de luz violeta e doces cristais de alcaçuz.
Por vezes sentia medo de tanta altura, se fechasse os olhos seria capaz de nunca mais voltar e isso era uma quase delícia, quase um pavor que sombreava seu corpo e tudo se tornava chão. Mas isso, de alguma forma, também era o eterno, nunca mais era uma coisa que ficara em algum ponto, parada, encravada como uma farpa na pele de um vento.
Unir o ponto prá sempre com o nunca mais era a parte mais difícil, duas eternidades paralelas que só se encontravam no infinito, e o infinito era o ponto que mais lhe doía.
Era preciso se estender demais, seu corpo pequeno não suportava essa linha atravessando o peito, puxando de encontro ao que tinha mais medo e que, ao mesmo tempo, atraía... e a traía.
O eterno era prá sempre esse nunca mais cravado no peito de um cavalo suspenso no céu.