Quem planta ventos, colhe tempestades

Há alguns anos, precisamente em 1.997, meu automóvel, um Gol 1.8, apresentou um defeito. Estava falhando e rateando. Fui numa oficina escolhida aleatoriamente, cujo mecânico, após examinar o automóvel disse:

--- Seu carro está com problema na distribuição. É preciso trocar a tampa da mesma e os Cabos de Vela.

--- Quanto será que custam essas peças?

--- Não sei não, mas não é tão caro assim. Ficamos acertados que amanhã traria o carro para ser feito o reparo.

Acordei-me no outro dia bem cêdo e dirigi-me a uma revenda de peças. Comprei a Tampa da Distribuição e os Cabos solicitados. Paguei na época, algo em torno de R$250,00. Levei as peças na oficina e entreguei-as ao mecânico. Notei que ele ficara satisfeito. Deixei então meu carro lá e em seguida tomei um ônibus para minha residência.

Lá pelas 15 hs daquele mesmo dia voltei na oficina. O automóvel já estava pronto. O mecânico cobrara-me R$ 30,00, à título de mão de obra. Fiz o teste e fiquei feliz ao notar que meu carro não apresentara mais nenhum problema. Ao retornar para casa, passei em um boteco onde sempre parava para tomar aquela cervejinha básica bem gelada. Cumprimentei os amigos e sentei-me junto a uma mesa mais ao fundo daquele estabelecimento. Estava nos primeiros goles quando aparece o Afonso, velho amigo e vizinho. Saudou-me como de costume. Puxei a cadeira para ele e solicitei mais um copo. Começamos a saborear a cerveja e a papear as coisas da vida. Contei-lhe do ocorrido com meu automóvel, afirmando-lhe que apesar de ter ficado um pouco caro, valeu a pena, pois o mesmo não apresentara mais o problema. Foi quando ele perguntou-me:

--- O que você fez das peças substituídas?

--- Disse-lhe que as tinha deixado naquela oficina, onde consertara o veículo.

--- Isso não se faz, parece-me que garfaram o seu bendito dinheirinho, pois você agiu como marinheiro de primeira viagem.

--- Como assim?

--- Meu amigo,Hoje em dia não se pode confiar em mais ninguém. Vou te dar uma lição de vida, vamos lá buscar as peças defeituosas! Deixamos a cerveja pela metade e dirigimo-nos à oficina. Ao constatar nossa presença, notamos que o mecânico ficara meio embaraçado. Disse-lhe que tinha me esquecido de pegar as peças substituídas e as estava querendo. Meio que a contra gosto, ele me entregou as peças avariadas. Por orientação do Afonso, fomos diretos para uma revenda autorizada Volkswagem e solicitamos um exame na Tampa da Distribuição e nos Cabos de Vela condenadas pelo mecânico. Qual não foi nossa surpresa quando informaram-nos de que as referidas peças estavam em perfeito estado e funcionando cem por cento? Moral da história, ou ele ia colocá-las em outro veículo já previamente contratado, ou ia vendê-las a uma outra pessoa qualquer que delas necessitasse. Na hora, o primeiro ímpeto era ir na tal oficina e quebrar a cara daquele mecânico de uma figa. Pensando melhor, depois de balancearmos os prós e contras, convencionamo-nos de que o melhor seria deixar para lá e irmos cuidar da nossa cervejinha santa de cada dia.

Passados dois meses daquele acontecimento, ao transitar pela rua daquela malfadada oficina, pude verificar que a mesma tinha entrado em estado de falência e, portanto, não mais aplicaria golpes em mais ninguém. O mecânico autor daquela façanha ficara desempregado por uns tempos e depois adquirira uma Kombi velha e passou a vender ovos e queijos na feira. Depois de uns treis anos, após o ocorrido comigo, fiquei também sabendo que o mesmo morrera num acidente com uma carreta no trevo de acesso à cidade.

Amarú Inti Levoselo
Enviado por Amarú Inti Levoselo em 10/04/2006
Código do texto: T136590
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