"O homem com sua dor é muito mais elegante", diz a letra de uma canção. 
Gerações passam, outras vêm e a frase - homem não chora! – é dita há séculos. Ainda existem pais que bloqueiam a emoção dos seus filhos, impedindo-os de deixarem as gotas de sentimento rolarem em seus rostos. A criança não entende...As meninas choram, elas podem, mas o macho, este não, ele não pode chorar. O chavão é tão freqüente que, com o joelho sangrando, conseqüência de uma queda de bicicleta, o choro é contido. Uma, dez, inúmeras vezes. O menino aprende. O homem sabe, não pode chorar.
 
Lembro-me de ter visto ainda criança, um homem chorar. Ele havia permanecido dias e noites, sentado à beira da cama de sua mulher doente, e quando a viu despedir-se da vida, depois que todos se aproximaram e as providencias necessárias foram tomadas, após a retiraram do corpo da cama, ele ficou lá, com a porta do quarto fechada. Do lado de fora ouvi seus gemidos sufocados, que aumentavam. Vi um homem chorar pela primeira vez.
 
Tem razão a letra da canção, o homem que assume sua dor e chora é mais elegante, caminha diferente, tem uma aura mais leve, é mais bonito, mais seguro, confiável e altivo.
 
Há uma lenda que conta como nasceu a pérola: gotas de orvalho caídas durante o alvorecer, caíram em uma concha e daí, transformaram se em uma pérola. Segundo outra lenda persa, uma concha, desloca-se das profundezas do mar e vem à superfície, para receber uma gota de chuva caída do céu e é essa gota de chuva que se transforma em uma pérola. A lágrima é comparada à pérola. Há uma manifestação de sinceridade, abertura, receptividade no ato de chorar. Água da chuva que fertiliza, orvalho das manhãs, emoção transformada em água, tudo isso é a lágrima. A lágrima é uma pérola.
 
É tão sublime este ato porque é um ato de coragem. Um ato que encanta as mulheres. Elas choram sozinhas, vendo um filme, na rua, ao volante, em um grupo, de saudade, de tristeza, de alegria. Com raiva, compaixão, dó. Não importa onde nem a razão, a mulher chora. Elas sabem que chorar as torna mais fortes. Alguns homens não suportam vê-las chorar, outros, talvez aqueles que não se envergonham, sabem abraçá-las enxugar suas lágrimas e compartilhar.
 
Deixar as lágrimas descerem no rosto é o melhor exercício de entrega e relaxamento.
Vamos sorrir e chorar. São desses opostos que é feita a vida.
 

(fragmento de crônica, do livro Na Boca da Noite, ainda não publicado)
Imagem: PGV