LEMBRANÇAS (amargas) DE UMA NOITE DE NATAL...

 
         Tudo era festa, ao meu redor risadas, alegria... Dentro de mim uma tristeza que me deixava vazia. A casa estava cheia. Eu estava sozinha, cercada de pessoas queridas. Gente que amo e que sei, também me ama. Tentei entabular conversa. Até consegui, mas faltava vida, energia. Sua voz ainda soava em meus ouvidos, passaríamos o natal longe um do outro. 

            Nem a alegria de estar em Natal, minha querida e amada capital, conseguia arrancar de mim a sensação de vazio. Era Natal e estávamos separados. Todas as ausências foram suportáveis, por que esta doía tanto? Esqueci a prece. Esbocei sorrisos. Tomei um pouco de vinho, suave, para amenizar a acidez dos sentimentos. Não desceu bem. Desisti. 

            O ar estava quente. Abafado. Em meu rosto gotas de suor. Em meu coração cascatas de solidão se acumulavam formando um lago de saudade. Saí antes do final da festa. O cansaço não venceu a sensação de abandono e fiquei buscando você em minhas saudades mais doces: aquelas dos dias comuns, quando sei que a ausência é apenas o hiato entre o beijo de até logo e o encontro que virá em seguida.

            Ainda senti seus olhos em meus lábios e deixei-me beijar por sua presença quase física. Acariciei sua imagem, aquela guardada em minha retina, e senti que também ela estava triste, olhava-me com saudade. Um mudo pedido de desculpas saltava de seus olhos. Adormeci. 

            Meu sono foi povoado de sonhos. Você esteve presente o tempo inteiro neles. E sonhos são livres. Não há distância. Amamo-nos. Vivemos nossas fantasias. Entregamo-nos por inteiro. Estávamos felizes.
           Passeamos de mãos dadas pela costa natalense. Você usava o presente que lhe dei. Vimos o pôr-do-sol. Acordei com um sorriso nos lábios que logo murchou ao perceber que você não estava mais comigo. Quis dormir outra vez. Não consegui.

            Enfrentei sozinha (sem você) o dia de natal. E, ao olhar-me no espelho, percebi em meu rosto, as marcas deixadas pela saudade. Desabei. Aquele lago de saudade transbordou e toda dor acumulada correu livremente pelo meu rosto. 

            Chorei por nós dois. Sabia que você também estava triste. Sentia minha falta. Talvez, por isso, a dor fosse mais intensa, pois sofríamos separados pelo desejo único de estarmos juntos.

            Sabia, no entanto, que logo mais estaríamos juntos, mas passar o natal sem você foi muito mais difícil que enfrentar todos os dias de saudades vividos durante o ano. Uma única noite e a sensação era de toda uma vida de ausências. 

          Exagero? Sei que é. Mas, talvez pela simbologia que envolve a noite, talvez pelo desejo crescente de estar sempre juntos, esta foi à noite mais difícil sem você. Nunca foi tão doloroso adormecer sem beijar seus lábios, acordar sem tocar você.




 
Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 28/12/2008
Reeditado em 29/12/2008
Código do texto: T1357031
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.