UM BANQUETE PARA JESUS

UM BANQUETE PARA JESUS

É uma pequena história, muito antiga, que foi contada de uma geração a outra, pelos tempos afora.

Meu pai, quando eu era menino, me contava histórias sentado na minha cama, na hora em que eu ia dormir.Foi bem antes da era da televisão, que de um modo geral, acabou com este tipo de coisa; e nossa casa, há uns três quilômetros de Vassouras, não tinha telefone e ainda era iluminada à luz de lampião. Lembro-me com muita saudade daquelas noites de frio seco, em junho, quando adormecia embalado pelas palavras de meu pai, que, tal uma Sherazade, dispunha de uma história diferente para cada noite.

Pois foi numa dessas noites , eu já todo enrolado nas cobertas, que meu pai me contou este caso que ficou na minha memória até hoje.

A história se passa num daqueles três anos da pregação de Jesus. O Nazareno visitava uma das muitas cidades que percorreu anunciando o início de uma nova jornada para a realização de um homem novo num mundo novo, em que o amor seria a tônica na relação entre as pessoas. Falava de um ideal muito antigo, mas que suas Palavras, ditas através de magníficas parábolas, não só traduziam mas alçavam a um novo e coeso sentido.

O jovem inspirado penetrava o coração das pessoas, trazia uma nova luz, uma intensa vontade de fazerem jus ao Reino dos Céus, aquele reino que os mais argutos logo descobriram que, antes de mais nada, deveriam descobrir dentro de sí mesmos.

Entre os que ouviram o jovem Mestre naquele dia, estava um homem muito conhecido na comunidade, tido como bom e justo, e muito agraciado por Deus, por ser muito rico.

Era uma dessas pessoas que gostam da vida, que sabem fruí-la com equilíbrio, e com decisão nas horas em que são confrontad por algum desafio.De certa forma, um líder e principalmente um homem dotado desta qualidade rara que é a de julgar, de imediato, o caráter de seus semelhantes. Aquele homem dificilmente seria enganado por alguém, dificilmente incorreria em erro em seu julgamento. Por esta razão mesmo, logo percebeu, enquanto ouvia o jovem rabino pregar na praça, que estava diante de alguém absolutamente fora do comum, uma criatura especial, que dizia as coisas mais simples dando-lhes uma dimensão nova, universal, jamais atingida por qualquer um que pregara antes, por mais apto e capaz que fosse. Entusiasmado diante daquele Ser Luminoso, e fascinado pelo olhar e pelas palavras do jovem rabino, acercou-se dele e convidou-o para um banquete que faria em sua homenagem no dia seguinte. Convidaria não só os homens mais influentes da comunidade, mas também os mais sábios. Queria proporcionar a todos uma discussão sobre as boas novas prometidas pelo inspirado Mestre. Jesus aquiesceu com prazer, pedindo apenas, que após o almoço, os jardins do anfitrião fossem abertos a todos os indivíduos daquela aldeia, de modo pudesse transmitir, ao maior número de pessoas possível, a Mensagem que lhe fora inspirada pelo “Seu Pai Que estava no Céu”. O anfitrião concordou com prazer. Na mesma tarde ordenou as primeiras medidas para o grande evento do dia seguinte.

No grande dia, o anfitrião estava muito excitado com aquela verdadeira festa que proporcionava ao jovem Mestre e muito orgulhoso de poder recebê-lo. Na hora marcada a sua euforia era visível. Corria de um lado para outro aperfeiçoando os detalhes da recepção, e seu orgulho em poder receber Jesus com tanta fidalguia enchia-o de ternura e auto realização.

Acontece que Jesus não chegava e as horas foram passando e a decepção de todos era visível. As pessoas começaram se impacientar, a fome foi aumentando e num dado momento o dono da casa teve que ceder e dar por começada a recepção.Aliviados os convidados corriam para encher seus pratos, e serviam –se a contento e pediam vinho. O anfitrião, que tão generosamente abrira a sua casa para o Nazareno, da alegria passou para a decepção e da decepção para a ira. Quem pensava que era aquele jovem pretensioso e ingrato? Num dado instante, quando o anfitrião ainda esperava que Jesus chegasse a qualquer momento, um criado aproximara-se dele e dissera: “Tem um mendigo aí fora dizendo que está com fome, posso disfarçadamente servi-lo?” “Ora, ora, vá procurar água no deserto, que é melhor, como ousa me incomodar numa hora dessas por causa de um mendigo?”. “É que até hoje jamais negamos um prato de comida a ninguém que passa fome, esta é nossa tradição”. “Despache-o logo, diga que volte no final. Quando o banquete acabar a escória poderá comer o que quiser e atradição será cumprida”. E assim foi feito. Lá pelas tantas, quando o nervosismo do anfitrião estava no auge e ele já percebia que Jesus não viria, aconteceu de novo. O criado novamente procurou o seu chefe e lhe contou que lá fora estava um homem “morto de fome” e que suplicava por comida. O anfitrião, que já estava completamente fora de si explodiu: “Você é inoportuno mesmo, filho de um verme! Já não lhe disse que no final liberaremos a comida? Não me apoquentes mais com isso porque se o fizeres de novo serás açoitado e entregue às formigas!”. O criado, que conhecia a sombra de seu chefe, saiu de fininho,e se desembrulhou como pôde, afastando o mendigo.

No dia seguinte, o anfitrião foi ao encontro de Jesus reclamar contra o que havia acontecido. Esbravejou a sua indignação, a sua frustração, a dos convidados e queixou-se de todo o trabalho que tivera em vão. Jesus ouviu-o em silêncio sem tirar os seus olhos dos olhos do seu interlocutor furibundo. Jesus respondeu-lhe com serenidade e neste momento houve uma pequena alteração no seu olhar: “Não sei do que me acusas, pois ontem bati à tua porta por duas vezes e por duas vezes me foi negado o direito de me banquetear contigo. Faça por onde, quando lidar com os pobres, para que sejam melhor recebidos em tua casa do que fui recebido, para que também sejas melhor recebido no dia em que bateres na porta da Casa de Meu Pai.”

Joao Milva
Enviado por Joao Milva em 24/12/2008
Código do texto: T1351194
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