O direito de externar a sua dor
Estamos sempre a considerar que a nossa dor,física ou moral,é sempre maior e mais doída que a do nosso semelhante.Mas não é bem assim,penso eu.
Acredito que todos temos o nosso limiar da dor.Aquele limite que o consideramos "máximo" e que a partir daí a dor se torna humanamente insuportável para nós.
Tenho visto mulheres em trabalho de parto como se nada estivesse acontecendo.E na verdade nós sabemos que este processo é dolorido porque toda a estrutura pélvica feminina se prepara e se adapta para um evento que não é cotidiano , lançando mão de alargamentos, ações hormonais etc.
Outras, no entanto, gritam como se estivessem diante de uma catástrofe super, hiper, insuportável!
Já vi pessoas perderem entes queridos como se estivessem se despedindo para se encontrarem no dia seguinte enquanto outras caem em tamanha prostração e dor que parecem irão sucumbir.
Assim somos nós.Ilhas solitárias e únicas no Universo.
Lembro-me de estar atuando um certo dia no Pronto Socorro do Hospital onde trabalho e começamos a ouvir gritos pavorosos . Estávamos com uma garota adolescente, uns doze anos, se ultimando na sala de emergência,vítima de picada de escorpião. Ela,residente em uma fazenda um pouco distante da nossa cidade demorou até ser trazida e atendida, não havendo assim uma pronta resolutividade do soro aplicado no combate ao veneno.
Eu me encontrava próxima a uma determinada médica que ao ouvir os gritos pavorosos da mãe da garota perguntou com cara de assombro: O que é isto?!! Ao que lhe respondi: É uma mãe cuja filha está se ultimando.Ela, de imediato me saiu com esta: "e precisa gritar assim"?!
Séria, olhando dentro dos seus olhos respondi-lhe com outra pergunta: Doutora, a senhora já perdeu um filho?!
Ela não perdeu a graça e respondeu: Não! Mas se todo mundo gritar assim quando perder um filho...Eu acho que não há necessidade!!
Pois eu acho que ela tem todo o direito de gritar, correr despida se quiser, xingar,arrancar os cabelos,enfim,fazer o que quiser , exceto matar ou matar-se. Pois,ela,somente ela sabe a dimensão da sua dor.Nem mesmo quem já perdeu um filho para a morte não sabe avaliar a dor do outro que está passando por isto.
Cada dor é uma dor!
Foi um diálogo frio e nojento mas no qual tentei fazer com que aquela médica presunçosa, pudesse entender que todos possuem o direito inalienável de sentir e externar a sua dor.
E você,como age diante daqueles que estão passando por um processo doloroso,físico ou moral?! Reage como esta doutora ou se faz ao menos solidário respeitando o direito do outro?
bjs soninha