Um Quê de Quase Tudo
O que nós, escritores nada famingerados, podemos saber de quase tudo?
Nós escreveríamos sobre o amor, sobre a angústia, sobre o sol, o céu: o heliocentrismo vigente; sobre como as coisas desandam na nossa geração que, segundo os mais radicais, é "pré-juízo". Nós seríamos os últimos escritores da face da terra... Em verdade vos digo: escreveis na mansidão da superficie. Que mesmo em nossa Era Caótica, viemos do fim de tudo e viveremos o fim de tudo eternamente. Somos o que sobrou da evolução e daqui não tem mais volta, mas a estrada é incerta, porém infinita.
Escreveríamos sobre esta estrada que assusta o homem? Nós que lemos, comemos e guspimos palavras, poderíamos até tentar ver a frente de vez em quando. Somos aptos a imaginar e todo ser humano é capaz disso.
Enfim, cada um leva um escritor no ventre e escritos na mente. De Deus à filha que eu ainda não tive, todos somos escritores e escritos. A Bíblia, o jornal, a certidão de nascimento. Todos não passamos de letras, nos auto-escrevemos todo dia, todo segundo... Todas as eras, somos um quê de quase tudo.
O mundo é um livro de trombetas, bestas e humanos medrosos.
Tudo é escrevível! E tudo será salvo no fim das coisas infinitas...
E assim, nós seguimos vendo nenhum carro passar a avenida Paulista sem poesia na vista e a mansidão da superfície ainda nos atrai para o buraco negro da realidade... O escritor é um mar infinito.
Evoluímos e isso nos torna arbitrários; somos sociais e hostis, somos os mansos e bravos; somos um quê de quase tudo...
Pois ainda o escritor é esse mar que a cada gota - verso, linha, sonho e lágrima - se torna a mansidão infinita...