FORA DO MUNDO DAS LETRAS
FORA DO MUNDO DAS LETRAS
Marília L. Paixão
Eu estou vendo você se envenenar dia-após-dia. Se eu não fizer nada breve você baterá as botas na luz do dia. Quem morrerá de saudade de você serei eu. Quem se sentirá culpada também serei eu. E quem dirá que de nada mais adiantará lamentar, serei eu.
Então eu lhe proíbo de comer as frituras, as massas silenciosas engolidas mal mastigadas enquanto você se delicia. O açúcar dos doces e das balas e até dos tais lights refrigerantes. Ficam proibidas as lasanhas e as batatas cremosas. Os salgados fora de hora e os sorvetes. Também as tortas batidas no óleo e no liquidificador que são servidas na escola. E o que fazer com os bolos de aniversários dos aniversariantes de lá? Será que você vai me escutar?
E quando você me pedir um macarrão eu lhe oferecerei apenas uma abobrinha recheada. E quando você me pedir uma batata frita eu lhe oferecerei uma salada de pepino, tomate, alface e uma carne grelhada.
Esconderei todas as canecas grandes nas quais você toma tanto leite e deixarei apenas as minhas de café. As minhas cervejas geladas lhe deixarei tomar só no dia que faltar fé. Pois se não sobe o morro, não caminha, e resmunga se acha que ficou de pé muito tempo, está é acabando meu tempo de lhe ter junto para falar da vida e banais absurdos.
É por isso que acabou o seu tempo de abusar de tudo e achar que a festa da comida pode durar para sempre. Eu lhe digo que a solidão não me faz bem para a mente. E imaginar-lhe com curta vida é me imaginar sem ter ninguém para eu abrir a porta. Este pensamento muito me desgosta. Por que se existe flores nesta casa, elas sorriem é quando você chega. Eu fico apenas no mundo do trabalho e das letras.