Maria José Togeiro Galvão (tia Santa)

Minha mãe já dizia de três coisas que não se discute:

Política

Moral do próximo

Religião.

Com o tempo descobri que ela estava (sempre) certa.

São facas de dois ou mais gumes.

Religião, existem muitas religiões. Cada povo tem a sua, alicerçada na sua cultura. Qual a melhor? No meu entender, não há. Será de acordo como vivemos nossa opção religiosa. Cada um tem seu pensar a respeito e eu respeito o de cada um.

Moral... É aquele ditado: ‘senta no rabo para falar dos outros’.

Política. Desta todos entendemos. Todos somos gurus. E eu não escapo dessa. Teço minhas teorias, exponho soluções também.

Soluções feitas de palavras enchem o mundo. Mas nos meios de comunicação – rádio, televisão, internet, os apelos e as reportagens são para a violência contra o povo. O ser cidadão pleno tem direito assegurado na constituição, nas cartilhas dos direitos humanos, falado em todos os cantos do planeta. E no real nem todos têm onde morar, o que vestir e, o pior, o que comer. Claro que, empobrecer os que têm para dar aos que são miseráveis por falta de opção, não é solução. Excluindo aqui a corrupção, o enriquecimento ilegal, tráfico e tráfego, todo qüiproquó em torno do alheio etc. Solução é justiça social.

Falar de justiça social é algo que transcende o bom senso coletivo, é preciso vir do individual. Temos de mudar cada um no seu modo de ser. Só assim seremos exemplos para os que dirigem os países, os que orquestram nos grandes bancos a economia dos países, o destino do mundo. É a esta conclusão que cheguei. Coisa difícil, porque o lucro está acima do ser humano.

Comecei falar de política e já estou me perdendo. Eu queria mesmo não era falar dessa política, e sim falar das políticas que cercam o ser humano do individual para chegar ao coletivo, de ser único para ser povo, nação. Isto porque ao nascermos somos registrados, só assim existimos e podemos reclamar direitos. Quando nos casamos é costume assentar no cartório de registro de nascimento que nos casamos. Os proclamas evitam as bigamias, que ocorrem, todavia, legal ou ilegalmente. Quando morremos para sermos enterrados precisamos de um atestado de óbito e levá-lo ao cartório. A notícia corre. Mal passou o velório, sobretudo nos interiores, as aposentadorias de quem as têm são imediatamente interrompidas. Até os bancos ficam sabendo. Damos baixa no CPF para evitar que espertinhos façam um morto de laranja para negócios escusos. No entanto, devia haver uma política que assentasse o óbito no cartório onde se registrou o nascimento. E interligasse as informações aos TREs do país. Ah, sim porque essa política é importante para cortar ou manter vivos os eleitores.

A política é que depois dos 70 o voto é facultativo. Mas e depois dos cem? É... E depois dos 100 anos?

Aconteceu com minha tia de 102 anos, que mora na cidade de Cruzeiro/SP. Foi votar e já não estava nas listagens.

Neste tempo em que a política dos EUA tapa a nossa com sua rica eleição para presidente e que a sua política econômica falida se esparrama sobre a gente, quando só lhes parece ter dinheiro para manter guerras, detalhes de nossa vida nos passam despercebidos.

Assim, enquanto vamo-nos sufocando com políticas inúteis dentro da política, quimeras de serem mais importantes, minha tia momentaneamente deixou de existir nos cartórios eleitorais. Nem teve importância. Parecia um fato corriqueiro sem maiores conseqüências. Bem viva, teve a sorte de um fotógrafo, cuja política não é dormir no ponto, estar lá justamente no momento certo para registrar o acontecimento.

Tia Santa, nascida Maria José Togeiro, graças a ele está redimida aos própiros olhos e aos do mundo, prova concreta de existir sem se entender adiantadamente morta. Felizmente não precisou provar que está viva, como muita pessoa precisa fazer. Conheço uma assim. Morta-viva.

Além do mais em Cruzeiro quando uma pessoa morre ainda é costume passar um carro anunciando pelas ruas da cidade, dando os dados e o horário do sepultamento. E para ela não passou.

Ah, Renan Odorizzi é o fotógrafo-jornalista, de Cruzeiro, a quem agradeço ter liberado a foto para o blog dos Sodero Togeiro. Seu trabalho pode ser visto no endereço http://www.flickr.com/photos/renanodorizi/2928646310/#DiscussPhoto, bem como a foto da minha tia. Afinal, o mundo é sua testemunha. Ela é um exemplo de que, mesmo estando nossa política em contínua tentativa de reconstrução, a sua política é estar atenta na escolha do mais adequado.

E eu contínuo concordando com minha mãe. Com tanto palpite, inclusive os meus, Política também não se discute, sobretudo quando há tanto partido, tanto candidato, tanta necessidade básica (moradia, salário, saúde, educação, lazer...) indeferida e agora, culpando a crise econômica mundial, a política da política será mantê-la mais uma vez protelada.

Por isso, acredito que a esperança sustenta o futuro do mundo. A esperança e pessoas como tia Santa que constroem e esperaçam o futuro.

É isso aí, de olho vivo, bem viva, Tia Santa!