Ser e Estar (um dia tu aprende II)
Cismo que essa crônica terá mil nomes, por que eu mesma já pensei em vários e o T-Rex não me deixa em paz. Porém, acredito que vá acabar sendo Um dia tu aprende II, embora o Rex me diga que a repetição é própria dos que não tem imaginação. Pode ser.
Mas, o fato é que um dia a gente aprende que tudo é feito de tal superficialidade que não vale à pena se aporrinhar por coisa pouca, esquentar o cú com rola fina e tals.
Bradamos que somos, e na verdade, estamos. Apenas estamos nada mais.
Neste momento estou dona de casa, pseudo-escritora (o Rex ri britanicamente da minha pretensão), mãe, esposa do Marcos, sogra do Bruno, tia do Lo.
Já estive funcionária, professora e amante, já estive magra, obesa, bonita e feia, já estive jovem, já estive de tantas formas e jeitos que só Deus e a Kodak pra saber.
Estamos, e não somos. As circunstâncias nos levam ao estar, apenas.
A esperança é a capacidade que temos de acreditar no improvável, de tocar no indelével, de provar o duvidoso. Somos apenas esperança.
Acreditamos em Deus ou no demo, esperando que qualquer um dos dois nos leve a algum lugar, segundo nossas preferências... O inferno é divertido, se a gente curte um sado-maso, um caldeirãozinho de fogo, um negócio daqueles que pendura a pessoa pelo couro e que eu desconheço o nome. Até aquele povo que curte merda e urina tem entrada, se bem que eu acredito fiquem separados dos demais danados... Cheiro de enxofre vá lá, faz parte da paisagem, Mas, merda? Acho que nem o diabo agüenta. No inferno se aceita tatuados, escarifiados, Drag Queen, travestis.
O céu também aceita, mas quem disse que eles acreditam?
Aviso que acredito que o inferno não aceita tarados, pedófilos, maus políticos e traficantes... O diabo gosta de se divertir, usa da vaidade das pessoas. Acho que esses negócios ai nem mesmo ele, que um dia já foi anjo e privou da Magnífica Companhia de Deus suporta. As mãos guardam o perfume das rosas que destroem.
Acreditamos no dinheiro, sobretudo. Até um dia desses comprava-se lugar no céu. Até hoje alguns acreditam que dinheiro compra felicidade, abre portas, compõe pessoas.
E, ingenuamente, acreditamos que somos cristãos ou satanistas, ricos ou pobres; entretanto, apenas estamos, por que o satanista gritará: - Ai, meu Deus! Caso as circunstâncias lhe forem adversas e os cristãos costumam mandar para o inferno as coisas que lhe saem contrárias.
Estamos ricos até perdermos o dinheiro ou percebermos que há coisas que ele não pode comprar, pessoas que não se deixam comprar ou impressionar. E que em se morrendo deixaremos tronos ou tamboretes, cama ou papelão, Honda Civic ou “busão”, manequim 38 ou 56...
Estamos nos achando “foda” ou pelo menos fingindo, tentando bravamente acreditar que realmente importa como nos vestimos e o que temos, para os outros. Que somos atração... Estamos atração, “fodástico”, arrasando, enquanto o holofote está em nós, mas essa luz artificial só nos banha uma vez por noite, quando o faz.
Estamos, apenas, neste mundo cheio de ilusões corrosivas ou deleitáveis.
Aviso aos usuários de drogas que acredito – até por que só posso avisar as minhas crenças, já que a verdade não me pertence – que é melhor juntar dinheiro para ir à Europa ou à Gramado, até mesmo ao balneário farofeiro, por que a viagem que se faz sentado em meio ao lixo ou na jacuzzi é pobre, curta e sem glamour. Aviso este que também serve aos alcoólatras, aos usuários de Lexotan e afins.
Os problemas e frustrações, ao contrário de nós, não estão, eles são. E não vão embora, a menos que a gente parta pra cima deles, com sanha de assassino, pra resolver.
Por fim, aviso aos fumantes, como eu – que sempre me dou maravilhosos conselhos que nunca sigo – que a cortina de fumaça que nos esconde é ilusória e que quem não fuma também pensa, sem auxílio de nicotina. Que cigarro é chupeta de adulto.
Assim, eu que cheguei a essas conclusões enquanto lava os pratos, venho aqui, sob protestos do Rex, dizer que estou, além de muito atrasada nas minhas tarefas domésticas, pensando o que farei para o almoço.
O T-Rex ronca fragorosamente, depois de deixar por escrito que não se responsabiliza pelas minhas bobagens.