PORTA DO AMOR NÃO DECLARADO E ERRO PRIMÁRIO

PORTA DO AMOR NÃO DECLARADO E ERRO PRIMÁRIO.

Marília L. Paixão

Numa manhã triste melhor eu iniciá-la com versos sobre o existir. Depois poderei passar para a fase crônica ou assassinar de vez o pensamento que está me matando.

A porta se abre

A porta se fecha

A porta não me beija

O céu se abre

O céu se fecha

O céu me beija.

Pronto! Agora a crônica começa com uma melhor estima. Eu que ando querendo escrever um texto sobre as ilusões. Mas este texto sobre as ilusões possuirá uma chave de ouro inquebrável e vou deixá-lo a espera. Ficará para o dia de mais paz em meu terreiro. Ficará para um dia em que ninguém colocará defeito. Pois eu mesma só o postarei depois de considerá-lo múltiplas vezes digno de mim. Por enquanto fica o rascunho se iniciando em minha frágil memória. Afinal, o que importa tanto sobre as ilusões?

Voltarei para a porta. Hoje não é dia de Marília. Mas se não me atrever com as letras com o que me atreverei?!

Olho a porta em silêncio baldio

De tão bem trancada nem se abriu

Na noite mil

Mais uma porta que me traiu?

Desta vez eu me trai por esquecimento

Agora provo do próprio ressentimento.

Provo do ranger da porta ou do ranger de dentes. Eu que poderia ter doado tão alegremente muito mais de mim, tão de coração aberto mais do que os cálculos proporcionariam racionalmente. Mas nunca fui de cálculos, eu sempre fui de semente. Ainda bem que antes de dormir não fiquei fitando o quadro da mulher de costas e nem tinha chegado à conclusão de hoje.

Mas não culpo a porta de sorrisos doces.

E nem as que possuíam presas enferrujadas

Carrego o peso da porta que ainda assim se abriu gentilmente.

Sinto o peso do descuido de quem adiou algo importante e este algo se queimou no sol da espera aos olhos de uma chuva fina. Você vacilou e ninguém lhe deu outra chance, Marília. Limpe com uma lágrima ou duas o seu leite entornado, mas faça dele um novo aprendizado. Será assim que novos dias de sorrir virão.

Terá vontade de chorar

Sempre que se lembrar

Desta porta que você amava tanto.

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 29/11/2008
Reeditado em 29/11/2008
Código do texto: T1309307
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