VÍRUS

Sou daquele tipo que só acredita na doença quando a adquire. Tal comportamento, pelo menos do ponto de vista psicológico, creio, ajuda a prevenir contra males os mais diversos, tendo-se em vista a constatação de que a maioria das doenças é criada em nossa psique.

Tenho um computador que já está se encaminhando para completar dois anos de idade e a única coisa que lhe aconteceu foi queimar uma lâmpada que fica no interior do monitor. A máquina ainda se encontrava na garantia e nada paguei pela nova iluminação.

O útil aparelho no qual trabalho digitando e revisando textos, abro e envio e-mails, converso com filhos e alunos no msn, serve também para filhos, genros, nora e netos que amam os jogos on-line e orkuts. Enfim, é uma casa de mãe Joana.

Amigos cuidadosos e certinhos vivem me mandando diversas mensagens de aviso e cuidados sobre a disseminação e tipos de vírus que acometem e danificam os sistemas.

Leio as correspondências por curiosidade e educação, mas até acho graça na paranóia dos meus contatos. E fico navegando ao deus-dará, desafiando os vírus, certa de que eles são mesmo uma espécie de folclore na área da informação.

Recuso-me a acreditar nesse câncer que destrói as ilusões e até as contas bancárias de tantos navegadores.

Aproveito para avisar aos disseminadores de vírus _ sei no fundo que eles existem _ para que não percam tempo comigo. Para espantá-los tenho a dizer que sou professora e, portanto, se buscam dinheiro em minha conta, terão uma nefasta surpresa, pois vivo no vermelho e poderei contaminar a atividade vagabunda de vocês.

Sugiro que procurem algo decente para fazer, tipo misturar cimento, carregar pedra, amansar burro brabo, pegar touro pelo rabo, ser babá dos filhotes do diabo, polir casco de navio, enxugar língua, combater o mosquito da dengue, catar espinho em mandacaru, apanhar cocô de cachorro em calçadas.

Eis que hoje encontro e abro uma mensagem que acionou uma ambulância e um carro de polícia no computador. Foi tanta sirene que cheguei a me assustar. Pela primeira vez vi o bicho de perto e comecei a clicar em toda a tela e o aviso continuava. Cliquei feito doida até que o aviso sumiu e as sirenes silenciaram.

Pensei: agora está confirmado, a peste existe e é barulhenta.

Fiquei atordoada pensando haver perdido os meus arquivos. Fui tentando tudo que aprendi by myself nessa máquina maravilhosa.

Aviso importante para todos. Para os amedrontados e para os atacantes de computadores. Estou bem do meu, como se diz aqui no nordeste, fazendo as mesmas coisas no meu querido micro que, a exemplo dos professores, tudo suporta.

Salvo agora o arquivo VÍRUS.

Deus existe e se envolve com isto também, faz milagres, inclusive salva arquivos.

Eu te esconjuro, hacker. Vade retro, tinhoso.