MEU CORAÇÃO

 

            Não sei o que faço com meu coração. Ele sai pela boca quando fico excitada, se derrama pelos olhos quando me emociono, vira pedra (de gelo) quando sou ferida, vira manteiga (derretida) diante de demonstrações de afeto, amolece todo quando  fala com o seu.

            Este meu coração não quer crescer e fica brincando de ser moleque, rindo das palhaçadas mais bobas, fazendo caretas para situações pitorescas, chorando diante das cenas de amor, encolhendo-se com medo dos gritos da natureza.

            Descobri, recentemente, que meu coração não está localizado no lado esquerdo de meu corpo, veio todo trocado. Ele está em meus olhos, quando olha os seus, estava em peito quando alimentava os filhos meus, está em meus dedos que contornam seus lábios, em meus lábios que beijam os seus, em minha boca quando fala de amor.

            Pode também não estar em lugar nenhum. Sinto que às vezes ele me escapa. E na ausência dele fico dura, como rocha, e não vejo cor ao meu redor. Meu coração, como uma porta, às vezes se fecha e meus olhos nada vêem.

            Este órgão multifacetado é cheio de nuances e me surpreende sempre. Já se desmanchou em lágrimas quando deveria apenas sorrir e, sorriu, friamente, quando em lágrimas deveria desmanchar-se.

            Será que meu coração é doente? Que preciso consultar um cardiologista? Acho que não, pois sinto que meu coração não é feito de carne, músculo ou qualquer outro tecido biológico: tenho impressão que ele é todo sentimento.

            Desconfio que até seu formato seja diferente. Tem horas que ele ocupa todo meu corpo. Sinto-o em minhas pernas, querendo empurrar-me para longe do perigo e, em outras vezes, ele é tão pequeno que não consigo localizá-lo em nenhum lugar.

            Desconfio que ele tenha olhos, pois sempre procuro ver as coisas com olhos do coração. Fica tudo tão mais bonito! Já o flagrei querendo ser ouvidos. E quando isso acontece todos os sons parecem divinos. O chato é que quando ele age assim a razão desaparece.

            Meu coração tem asas. Sim, ele me faz levantar vôo e caminhar pelos céus. E tem pés de bailarina, sabe caminhar nas nuvens sem cair ou derrubá-las. Este meu coração é um eterno aprendiz. E também desconhecido. Sei pouco sobre ele. E não sei onde ele esconde seu manual.

            Tudo que sei de meu coração é que ele resolveu abrigar o seu e dele fazer-se morada. E para você ele sempre se apresenta normal e bonito, acho que quer lhe impressionar. Ah! Também sei que meu coração é todo seu.

           

 

Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 20/11/2008
Código do texto: T1294028
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