"O meu amor tem um jeito manso que é só seu"
De novo o título nada tem a ver com a crônica, por que eu defendo a tese de que as pessoas preferem ler os escritos com títulos românticos e/ou religiosos. Mas, mesmo se sentindo enganado, leia e se puder deixe comentário.
Estamos condenados a viver nesse "país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza", o país da "puta que o pariu", o país do "foda-se".
Aqui é cheio de belezas naturais, e de um clima privilegiado, não há vulcões ou terremotos...taí, até Deus já tá mudando de idéia e de vez em quando a terra treme. Creio que seja por causa do povinho peste que nós somos.
(O T-Rex, esse dinossauro inglês e safado, deixa sua elegante xícara de chá, e senta no meu ombro outra vez: - Lá vamos nós - ele diz - pelo universo incoerente do seu pensar. E gargalha educadamente, britanicamente.)
Um povinho subserviente e safado é o que somos nós - com raríssimas, mas muito raríssimas, exceções. Quando não somos ativamente corruptos, o somos passivamente, aceitamos qualquer conversa mole que nos lancem goela a baixo, sem contestar nem nos defender e ainda esperando ganhar alguma coisa com isso. Votamos nos piores safados.
Somos preconceituosos. Ladrões de gravata e black-tie podem nos roubar, mas dificilmente pensamos nos problemas sociais que favorecem e viabilizam a corrupção e o roubo. Deixamos que as favelas se instalem, nada fazemos em relação aos absurdos que vemos.
Adotamos, tacitamente, que "farinha pouca, meu pirão primeiro". Ai os absurdos se multiplicam, sem protestos da nossa parte, a não ser que doa no nosso calo particular. Quer alguns exemplos? Lá vai:
O Pitta sofreu a denúncia da mulher, não por que ela tivesse incomodada com a postura corrupta do marido político, mas por que ele estava sacaneando com ela, particularmente.
Quantas denúncias de igual teor se deu, não por que é certo denunciar o corrupto, mas por que não se está "comendo bola" também?
A Marta Suplicy, sexóloga, mulher de um passado voltado para o estudo e a pesquisa, que matinha uma postura, para ser eleita e manter-se na mamata indecente que é a política desse país, insinuou a homossexualidade do adversário, como se ser viado fosse o maior problema moral que alguém pudesse ter!
No meu Estado, vi, com esses olhos que a terra há de comer, gente mudar a opção sexual - como se isso fosse viável e possível - para cair nas graças das cúpulas de poder locais que eram homossexuais assumidos. Com o perdão da má palavra, conheço uma puta velha, muitíssimo conhecida localmente, dessas chibateiras que tomam maridos alheios, se metamorfosear em "Rambo", para obter uma secretaria municipal. E como era chibateira antes, virou bolseira, andava atrás das menininhas, das moças bonitas. Um nojo!
( E não, não vou citar nomes. Não sou idiota, primeiro por que vivo aqui, segundo por que todo mundo daqui sabe quem é, e terceiro, o resto do Brasil, não conhece).
Sabemos de tudo, temos soluções para quase tudo, falando, mas não colocamos em prática nada do que sabemos em relação às políticas públicas e a coibição dos corruptos, fazemos protestos brancos, levamos faixas para o meio da rua, mas elegemos os mesmos políticos, quando já deveríamos nos conscientizar que não devíamos mesmo era votar.
Aí, me argumentam que voto é obrigatório. Tudo bem. Vale a pena pagar três reais para justificar, no outro dia, o não-comparecimento. Se bem que eu acho que aumentariam a taxa para trezentos reais, em seguida, garantindo assim que "legitimamente" elejamos nossos algozes e os carrascos de muita gente.
Somos coniventes com esse governo ridículo, que se diz para todos, e cujo o slogan está incompleto: "Brasil, um país de todos (que estejam no poder e que possam usufruir dele)"
Um pequeno exemplo: diabéticos tem a insulina e a metformina subsidiada pelo governo e seu preço desce para aproximadamente 10% do valor de revenda. Maravilha! Que governo mais bonzinho!
Uma ova! E os impostos escrachantes que pagamos? Esses 90% que não nos é cobrado são retirados exatamente deles. E outra, nem todas as insulinas - cada diabete tem sua insulina própria, um saco! - servem para todos os diabéticos. E outra, o governo não subsidia a seringa com que se aplica a insulina e o tipo adequado custa 18 reais o pacote com 10 unidades. Quem usa duas seringas por dia? Façam a conta.
Como é que o diabético, que não pode pagar insulina, paga a seringa? E se usa insulina sem seringa? E se o posto de saúde não tiver seringa para dar? Como é que faz?
Resposta que não obtive, nem creio que obterei. E sim, sou diabética, não nado em dinheiro e isso me interessa diretamente, quem precisa de outras coisas, versará sobre elas.
Enfim, estou cansada, absurdamente cansada, de pensar nessas coisas, de não ver solução possível, de não ter mais em quem ou em que acreditar, fora Deus. Neste país do "foda-se", queixemo-nos ao bispo - católico ou evangélico, à escolha - que nos indicará tolerar essas misérias como condição humana, castigo de Deus ou coisa que o valha, visto que a igreja sempre andou de mãos dadas com o poder, numa eterna amigação. A igreja sempre foi a "teúda e manteúda" dos governos, do poder.
Mas, o fato é que eu, particularmente, me sinto abandonada e sozinha, com medo do "bicho papão" que abocanha meu dinheiro, minha segurança e a segurança dos meus, além da dignidade possível. O Rex boceja, britanicamente, e diz que agora eu dei para falar com as paredes. Pior é que esse dinossauro tem razão.
Pois é, como diria Chico Buarque "o meu amor tem um jeito manso que é só seu", é com esse título que eu garanto a leitura profusa dessa minha crônica tão amarga e feia. Qualquer dia eu começo a escrever putaria...qualquer dia desses...kkk