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ISSO É PERDÃO?

 

Sempre tentei entender o perdão. O que é perdoar? Muitas vezes ouvi falar do perdão associado ao esquecimento.  Sempre me perguntei se sou capaz de perdoar. Muitas são as perguntas e quase nenhuma resposta me ocorre. Quando sou magoada por estranhos simplesmente ignoro, e acho que isso não é perdão, chamo de indiferença.

Mas quando a mágoa vem daqueles que amo, não esqueço, mas, passado algum tempo, convivo tranquilamente com a pessoa. O tempo que levo para superar varia em relação ao fato e as pessoas.  Entendo perdoar como uma prerrogativa daquele que sofreu a injúria, portanto, somente ele tem direito de perdoar.

Eu não posso perdoar o que o A fez a B, pois foi ele o ofendido, não eu. O filósofo francês, Jacques Derrida, tem uma teoria bastante interessante sobre o assunto, com a qual comungo. Para ele, o perdão é condição imprescindível para a reconciliação, para a continuidade da vida. O perdão deve parecer impossível e, neste sentido, ele só pode ser concedido ao que é imperdoável (o restante, nós desculpamos).

Afirma Derrida que perdoar não significa esquecer: o perdão não é o apagamento da culpa; é preciso manter sempre a ferida aberta, é preciso que o ato perdoado continue sendo sempre imperdoável e, portanto, o perdão é ato incondicional, pois não existem condições para a sua presença. 

       Ainda que isso pareça mais um jogo de palavras, conduzindo-nos a aporias, a becos sem saída, Derrida parece querer mostrar a extrema dificuldade presente no ato de perdoar e o perigo que há entre associar perdão à impunidade, ao esquecimento.

Acredito que perdoar é um ato divino, por isso infinitamente distante dos homens, no entanto, acredito que sou capaz de perdoar, não por grandeza de espírito ou generosidade, mas por incapacidade de alimentar o ódio, a mágoa e tudo que me faz mal. Seria isso perdoar ou apenas um ato de egoísmo?

O que significa perdoar? Eu  entendo o perdão como a capacidade de deixar de odiar e entender o ato do outro enquanto ação humana – com todas as imperfeições que esse qualitativo traz consigo e com todas as razões presentes na injúria.

          Creio que o maior exemplo de perdão que vi (li) foi o de uma adolescente que era violentada por seu pai e ao falar sobre o assunto, ela disse: “... não consigo odiá-lo e, apesar de tudo, eu o amo, sei que pode parecer horrível o que digo, mas amar quem lhe faz o bem é fácil, difícil é continuar amando quem destruiu todos os seus sonhos.” Impressionou-me tamanha capacidade de amar e perdoar.
 

Perdoar seria a vitória da misericórdia sobre o ressentimento, da alegria sobre a tristeza, mas, não é esquecer, pois o passado é irrevogável. E não significaria impunidade. 

         Assim, mesmo quando perdôo quero ver punido quem me feriu, pois não acredito que punir seja um ato de ódio, vingança, mas sim, antes de tudo, um ato de justiça. Por isso, para não precisar pedir perdão procuro seguir o imperativo kantiano “não faça aos outros o que não gostaria que fizessem a você.”

Mesmo assim cometo meus muitos erros, magôo, piso na bola. Quando isso acontece peço desculpas... Ou seria perdão?

Isso é perdão?

                                                




Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 16/11/2008
Reeditado em 16/11/2008
Código do texto: T1286238
Classificação de conteúdo: seguro
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