ESCRITOR EM DEVANEIO E SUA CRIA, AFLITO

ESCRITOR EM DEVANEIO E SUA CRIA, AFLITO.

Marília L. Paixão

- Eu posso fazer só uma perguntinha?!

Quase derramei o café da minha xícara vermelha. Em tempos turbulentos era melhor deixar quietinha a verde. Se ele acabar me fazendo quebrar uma xícara, melhor que não seja a verde. Mas também se me fizer quebrar a vermelha não vou querer ser ele.

- Se for bem rapidinho, pode.

- Como você sabe que ela só vai me fazer perguntas fáceis?! - Um passarinho me disse.

Pela primeira vez ele foi embora sem uma segunda pergunta. Como estava amadurecendo o meu sapinho lindo! Voltei a me concentrar na nova página do livro. Concentrada em pleno deleite da metade da página me sentindo rica, rica de idéias, rica de palavras, rica de leitores que me agradeceriam no futuro quando com aquela página em mãos... (todo escritor tem sua fase de devaneio) Mas o barulhinho de pássaros e mais pássaros não dava mais para passar despercebido. Abandonei a rica página para ver o que era. Lá estava Dagger rodeado de uma passarada.

- DAGGER!!! Gritei nada gentilmente! - Que bando de pássaros é este no meu quintal?

- Estamos querendo achar quem te contou sobre a Malu.

- Aquilo foi apenas uma expressão! Uma forma de dizer.

Nenhum passarinho me disse nada!

- Mas quem sabe um passarinho não descobre o que ela vai perguntar?!

- É melhor descobrir na hora certa,Dagger!

Ela pergunta você responde e pronto!

- Mas e se eu não souber responder?! Não quero deixar nada sem resposta! - Neste caso, você pede ajuda a um passarinho. Mas um só! Só um! Ouviu bem?!

Diga adeus para todos que daqui a pouco tem roupa para ser estendida. Se você continuar preocupado deste jeito vou pedir a ela que adie ou esqueça esta entrevista.