A FASE DA RAIVA
Invariavelmente, temos todos, a fase da raiva. Na realidade são fases, no plural. Vêm e vão durante a vida. Essa fase pode nos arrebatar com a velocidade de uma vespa e durar minutos ou horas. Mas também pode chegar devagarinho, sem ninguém ouvir nada ou perceber coisa alguma. Essa pode durar meses. Não gostaria de acreditar que pode durar anos, mas...
Uma fase de raiva pode acontecer na infância, apesar de não nos darmos conta na época e depois, bem mais tarde, aflorar na sala do analista. Nesse caso, essa raiva, depois de "descoberta", fica conosco por uns dias até entendermos que, apesar dela, sobrevivemos e, geralmente, no final, perdoamos as pessoas e até a nós mesmos (coisa difícil de se fazer...).
A adolescência é o reduto das fases de raiva. Sentimos raiva de quase tudo. Até de estarmos sentindo tanta raiva! Nada serve e tudo é motivo para deixar a raiva se fazer conhecer. E é tudo meio sem rumo, sem direção. O perigo fica sempre por perto nessa fase (da adolescência e da raiva). Podemos tomar decisões que afetam nossa vida adulta. Podem ser boas decisões e as estradas que se abrem são as que nos levam até a praia. Mas também podem ser decisões ruins que causam estrago por um longo tempo ou, pior, causam estrago bem depois.
Quando somos adultos, a fase da raiva é (ou deveria ser) mais serena, mas racional, sem tanto choro ou esperneio. Mas, pensando bem, o que é raiva sem escândalo? Nem que seja no íntimo. A raiva vira indignação e, quase sempre, agora falo por mim, desprezo. É tão cansativo, que eu prefiro esquecer que aquela causa específica daquela fase específica de raiva existe, e simplesmente ignoro. É mais fácil, mais leve. Às vezes, dá raiva de não ter a capacidade de transformar essa energia em ação. Mas aí, ter raiva do fato de estar atravessando uma fase de raiva é um pouco demais!