...EU VOU ESTAR NOS SEUS LIVROS, NOS SEUS DISCOS...
Os fantasmas se divertem. Não como os fantasmas que Dickens nos apresentou em seu Conto de Natal, mas se divertem. Hoje eles apareceram numa frase perdida de uma música que não escutava fazia algum tempo. E eles se manifestam em fotografias que ficaram esquecidas no canto do guarda roupa, revelando muito mais que imagens. Os fantasmas podem trazer o passado de volta, de forma incompleta é claro, pois os fantasmas são cruéis. E eles vem com o vento abafado dos dias quentes de verão, onde a brisa parece insana em contato com o suor que não esfria o corpo. Os fantasmas são feitos de vapor da memória e me assustam. Eles conseguem se infiltrar nas cicatrizes da alma e fazer elas sangrarem outra vez. Os fantasmas se divertem com as nossas dores e sabem por onde andam os nossos grandes amores perdidos. Os fantasmas nem sempre são invisíveis e eles não tem voz, mas sempre sabemos identificar os seus sinais. Já me chamaram de "ghost writer", mas eu rejeito, pois não saberia abusar da dor alheia para criar piadas fatais. Os fantasmas estão sempre por aqui, e me dão a impressão de que não vão embora. Quem sabe eu não consiga aprisioná-los no livro da Clarice que comecei a ler, quem sabe...