A necessidade do silêncio
Quando o meu marido começou com a idéia de comprar um sítio para dar continuidade aos sonhos de vida, após a aposentadoria, fui logo dizendo: o sonho é teu, eu não garanto que vou querer ficar lá, preciso de uma base em Pelotas- RS, para ver gente, civilização e movimento.
Para a minha surpresa, AMO o sítio. O silêncio, a paz, o ar, o verde das árvores, a rusticidade da casa, apanhar laranja do pé para comer, ou apenas ficar admirando-as. Ah! e as bergamotas, as que na minha terra eram chamadas de vergamotas com V mesmo. Tudo me encanta.
Não sei qual foi o momento em que comecei a apreciar o silêncio. Talvez, com o início do curso de Filosofia, em que a tranqüilidade e a solidão eram essenciais para a leitura e compreensão dos textos. Hoje, me sinto confortável com ele. As atividades mais preciosas para mim dependem dele: ler e escrever.
Isto é paradoxal, tratando-se de uma pessoa amedrontada, até então, com a “possibilidade” de ficar só. Não sei se é a idade-da-maturidade, ou se é o construir-se leitora/escritora que a cada dia, sinto mais prazer em ficar comigo mesma. Tenho a paz e o sossego necessários para realizar pesquisas, colocar em ordem os pensamentos, fermentar (dentro de mim) as crônicas e, principalmente, sentir a pulsação da vida.
No corre-corre diário, esta calma é impossível. Mal temos tempo de suprir as necessidades da existência, que dirá apreciarmos o pôr-do-sol, a beleza das nuances dos verdes das plantas, o canto dos pássaros e observar as galinhas ciscando no quintal. Alguém pode achar estas coisas simples demais. Pode ser.
31.07.08