É DIFICIL DEFENDER A VIDA...
Anteontem,uma garotinha de oito meses foi jogada,pela,mãe,da janela de um prédio;lembro do tempo em que as mães cuidavam,amavam e defendiam os filhos contra tudo e contra todos,em que o amor materno,incomparável amor,se manifestava,presente ,em qualquer situação,seja ela,de risco ou não.Este artigo,escrito em julho,eu o estou reeditando,por causa do bárbaro acontecimento,ontem,em Santo André.Presa de uma grande comoção,ainda não me acho com competência para escrever sobre isso,tentar entender,decifrar uma mente capaz de tantos crimes em nome do amor.Em nome do Amor!?Mas,como pode ser isto?Quem ama cuida,protege,desdobra-se para agradar o ser amado.Este crime foi cometido em nome do amor...próprio;em nome do conceito machista de posse,da falta de tolerância com a rejeição.A vida de uma jovem covardemente ceifada aos 15 anos,uma família destruída,o mundo,de repente,de cabeça para baixo.Ao me pôr no lugar dos pais dela,confesso que chorei;por ela e por todas as mulheres indefesas,pelo sofrimento das mães,por uma sociedade em franco descalabro.Os sinos dobraram por mim também.
Meses atrás,uma madrasta de uma linda garota,ajudada ou acobertada pelo pai da vítima,segundo os laudos,estrangulou a menina e jogou o corpo pela janela.Assim,simplesmente.Fazendo a madrasta de Branca de Neve parecer freira de convento!
O que me fez lembrar minha avó,criando com desvelo de mãe,os filhos que meu avô já tinha,antes do casamento,cuidando,educando,acarinhando,defendendo,minimizando as peraltices,para evitar os castigos do meu avô,homem severo.Como fazia com os seus.
Uma psicopata,há poucos meses atrás,amarrou,amordaçou,espancou,aprisionou,torturou,escravizou uma garota do interior,que veio,para ajuda-la nos serviços domésticos,em troca de um pequeno salário,casa,comida e educação.No entanto,só ganhou desprezo,ódio,maus tratos,entregue ás mãos de uma sádica,uma Torquemada tupiniquim,que sentia satisfação em causar a dor.
Não posso deixar de comparar com minha mãe,cujas ajudantes domesticas freqüentavam a mesma escola que eu,filha única,vestiam-se bem,comiam á mesa com a gente,iam ás diversões comigo e,a última delas,cuja filha nasceu e se criou junto com meus filhos,pois bem,Edite,para mim mais que uma irmã,viveu quase cinqüenta anos na nossa casa e foi quem fechou os olhos de minha mãe,embalou meu primeiro neto e ajudou a criar todos os meus filhos.
No último final de semana,um jovem de 18 anos foi morto a tiros por um soldado ,segurança do filho de uma promotora.
Eu me lembro das nossas festinhas de adolescente,os assustados,onde agente dançava ao som de BillHaley e seus Cometas,ou de Cely Campello,ouvia os Beatles e,o máximo que podia acontecer era uma briguinha de socos,quando alguém mexia com a namorada alheia.Como já éramos Republica,não havia elementos privilegiados na sociedade e,tanto fazia ser filho de juiz ou de operário,ninguém ostentava seguranças armados em festas,como se fosse um rei europeu ou um tiranete africano.
Bons tempos em que um garoto de escola só seria atingido por uma picada de marimbondo;em que os jovens só viam armas de fogo no cinema;em que ninguém abria a boca para chamar um idiota para brigar por ele ou protege-lo a menos que quisesse ser chamado de mariquinhas.;em que as mães davam palmadinhas na bunda dos filhotes ou os proibiam de ir ao cinema,como a minha fazia comigo todas as vezes que eu saía do eixo,quer dizer,sempre.Ai,que horror perder as matinés de Domingo,ficar sem ver John Wayne ou Tyrone Power,Ava Gardner ou Betty Grable!Antes uma boa morte!
Onde estão estes tempos felizes onde a gente só temia o sarampo,as assombrações,o tutu marambaia,o bicho papão ou o bicho de pé?Onde?
João Cabral de Melo Netto escreveu:”´E DIFICIL DEFENDER SÓ COM PALAVRAS A VIDA”.Frase oportuníssima nos dias de hoje.Mas,sou otimista.Eu creio na Paz,creio no Homem,creio no Amor.
Os desconfortos e sofrimentos de hoje,não impedem que eu repita a música de Gonzaguinha:mas isso não impede que eu repita:È BONITA,É BONITA,É BONITA!....