No lugar errado, na hora errada...

Expressão bem antiga, mas que ainda tem o seu valor.

Afinal, todos nós vamos nos flagrar, invariavelmente, no lugar errado e na hora errada em algum momento.

Às vezes nós nem percebemos, mas estamos onde não deveriamos, no momento menos benéfico. Só nos daremos conta do erro quando já estiver sacramentado, o cachorrinho já tiver urinado nas nossas calças, o carro que passa em alta velocidade já tiver espirrado a água da sarjeta nas nossas vestes, a nossa namorada tiver nos encontrado naquele bar de aparência duvidosa, completamente bêbado e acompanhado de duas outras mulheres...

Enfim, você só percebe a mancada quando tarde demais. É aquela velha história dos mal entendidos. Em muitas ocasiões, as coisas realmente não são o que parecem. Você estar ali, segurando um estilingue, enquanto do outro lado da rua seu vizinho acorda indignado, reclamando de uma suposta pedrada, pode realmente ser uma coincidência. Mas a conjuntura dos fatos te incrimina. E até se explicar que "nariz de porco não é tomada", você já levou dois ou três petelecos.

Mas, o que eu quero dizer com este texto não é o quão injustas estas situações podem ser. Isso todos vocês já estão cansados de saber. O que eu quero ressaltar é a razão para a ocorrência de tais fatos. Porque não se pode simplesmente dizer que estas infelicidades acontecem baseando-se em sorte ou azar.

Não, azar é pisar em um excremento. Sorte é achar uma nota de 5 reais. Estar no lugar errado, na hora errada é muito mais amplo e complexo do que isso. Envolve milhares de fatores que precisam cooperar em sincronia, visando unicamente te ferrar.

Porém, é óbvio que estes fatores não começam a funcionar por vontade própria. É neste ponto que eu quero chegar: o que catalisa estas situações incomodas? Quem ou o que é o gatilho para estas desgraças tragicômicas? E eu já lhe respondo: Você é o disparador.

Sim amigo, você. E sabe porque? Porque noventa por cento das situações inusitadas só acontecem quando você tenta sair de sua rotina. Estar voltando para a casa depois de um dia cansativo de trabalho e tropeçar no grande amor de suas vida só acontecerá em filmes. Coisas fora do comum não acontecem em situações rotineiras. Algo novo só acontecerá quando você resolver inventar. E este "algo novo" tende, na maioria dos casos, a ser ruim.

Pessimismo? Não, realidade mesmo. Um conhecido meu estudava de noite em uma escola próxima a sua casa. Devido a proximidade, ele ia e voltava da escola a pé, sempre por uma avenida movimentada. Uma noite, feliz por ter ido bem em uma prova, ele resolveu mudar de trajeto. Seguiu por uma rua menos movimentada, mas que reduziria o percurso grandemente. Resultado: assalto e uma facada. Por sorte, o golpe não foi letal, mas deixou uma cicatriz "engraçadinha" em seu braço. E sabem o que é pior? O bandido foi preso dias depois. Confessou que não saira de casa com o intuito de assaltar. Mas ele havia brigado com a namorada e estava extremamente irritado. Ao caminhar pela rua escura, sentiu um acesso de fúria e atacou a primeira pessoa que viu. O jovem que ele atacara não teve tempo de reagir, pois ele já abordou-o com um golpe. Vendo o rapaz cair, ele levou sua carteira, só por "desencargo de consciência".

A história soa cinematográfica, eu sei. Mas é real. O que concluir disso tudo? Se o jovem assaltado não tivesse seguido por aquele caminho alternativo, nada teria acontecido. Se o assaltante não tivesse seguido por aquele caminho alternativo, provavelmente não encontraria ninguém e retornaria para casa sem cometer nenhum delito. Ambos estavam no lugar errado, na hora errada. Os dois mudaram suas trajetórias rotineiras e acabaram se prejudicando por isso. Foram eles os disparadores de suas perdições.

Mas enfim, eu não quero defender a rotina. Não quero convencê-lo de que mudar certas coisas pode ser prejudicial. Só quero lhe mostrar que é sempre bom pensar bem antes de inovar. Eu compreendo que a euforia nos leva a tomar decisões sem pensar. Mas é preciso avaliá-las bem. Buscar razão em suas escolhas. Tomar cuidado. E depois, se algo der errado, não culpe o destino, a sorte ou Alá. Reflita se o que aconteceu não foi ocasionado por você. Depois desta reflexão, talvez você perceba como o que você fez foi extremamente estúpido. Como por exemplo o cara que tem rinite alérgica (ou crônica) e resolve "curtir" a noite em uma boate repleta de fumantes.

Tudo bem que eu estava no lugar errado, na hora errada. Mas por favor, estupidez tem limite...