Nos litorais desse oceano Atlântico

Estava eu prosaicamente fazendo umas compras (ovo, bolacha, etc.) num supermercado do bairro, quando a voz do Lulu Santos tocou meus ouvidos "talvez eu seja o último romântico, nos litorais desse oceano Atlântico"..ai o T-Rex acordou - o safado esteve dormindo uns dias - e eu me pus a conjecturar...em local e hora inadequados, certamente, como sempre.

Que há com essas novas gerações? Lembro-me bem que tudo que a minha geração queria era ser livre, era não pertencer, era não ser igual, era assumir a própria vida...éramos donos do nosso mundo interior, fazíamos amizades com classificação, fumávamos, não tinhamos medo senão do que caía do céu, usávamos as roupas que queríamos. Pertenço a um tempo que popular era Lulu Santos, Djavan, Belchior, Chico Buarque. Tínhamos alguma a coisa a dizer. Ouvíamos Rita Lee.

Casamos, tivemos filhos, separamos, construímos. Temos quarenta e tantos ou cinquenta. Somos.

E essas novas gerações? Perdi a fé nelas, eis tudo. Cambada frouxa de gente que, salvo raríssimas exceções, se refugiam atrás de computadores, ouvem J-Rock (como se japonês fosse língua de roqueiro), andam em tribos (magotes de gente sem cara, tudo "fardado" de emo, por exemplo), nada sabem sobre a vida real. Que até ontem cultuavam a Xuxa.

O T-Rex avisa que choverão protestos. Paciência dinossauro, a vida é assim mesmo.

Tivemos, é claro, os "viajantes" da maconha, da cocaína e outras paradas sinistras, entretanto uma grande parte das pessoas achavam, como eu, que a única viagem que realmente interessa é aquela que se faz a Europa - por que viajar sentado, de cara cheia, rindo bobamente, é uma coisa de uma pobreza sem fim - e de primeira classe, ainda que com uma mochila sobre as costas.

Agora celebramos a geração do pagode - aquele ritmo infernal, que fala de cornagem com um pandeiro, um cavaquinho mal tocado e um cantor de quinta - que pululam nos barzinhos a troco de míseros cachês - segundo meu sobrinho músico, pagodeiro de bar toca até por cerveja - matando a música de grandes personas como Paulinho da Viola. Neste ambiente propício vemos moças usando calças tão apertadas que é um milagre que possam se locomover, de cós tão baixo que o milagre é que não apareça mais que o "cofrinho", a maioria de cabelo pintado de louro amarelo, esticadíssimos em chapinhas, acompanhadas de criaturas esquistíssimas, "bombados" de cateirinha exibindo bícepes em camisas babylook, a maioria careca, usando boné, correntes no pescoço e brinco. E esses em geral tem uns caraminguás no bolso, ao menos, portam celulares - se é que isso tem a ver.

Celebramos a geração emocore, gente esquisita, de olho pintado, falando uma língua abestada, comportando-se como retardados, vestidos praticamente iguais, pregando um romantismo ridículo.

Ai, meu Deus, dai-me paciência!

Dia destes fui obrigada a atender uma criaturinha dessas, que me levou meia hora só pra decidir se queria coxinha ou brigadeiro.

Peralá!

O T-Rex me acusa de um preconceito canino e pitibulesco...é vai ver que esse dinossauro cretino tem razão.

Ah! novas gerações, se vocês soubessem do que eu sei hoje! Se vocês pudessem medir o tempo, e avaliar as coisas de modo adulto! Seriam certamente mais tristes, mas talvez, preferissem ouvir Lulu Santos.

O T-Rex me informa que esse texto está péssimo, que eu sou péssima e me pergunta, um pouco irritado, o que eu vim fazer aqui.

ah! vai-te lascar dinossauro.