Porque chutar cachorros é um erro?
Cuidado: texto sem nexo!
Uma pergunta simples, e com uma possível resposta com simplicidade equivalente.
"Possível resposta" porque já descobri que ela não é nem a única, nem a mais adequada.
O certo seria dizer que "não se pode chutar um cachorro porque ele é um ser vivo, com sentimentos e emoções, tal como você, seu humano bundão!"
Eu pensava assim. Pensava, até descobrir que TODOS os cachorros são meus inimigos!
Porque? Porque o meu trabalho resume-se a uma frase: entrar no jardim das pessoas e fuçar seus medidores de energia.
Engraçado, mas a função dos cachorros é exatamente o oposto.
Impedir que entrem nos jardins e fucem em qualquer coisa.
Opostos se atraem, colidem, digladiam-se. É a minha sina com relação aos cães. Eu tenho que livrar-me deles, eles tem de livrarem-se de mim.
Sem eles, meu trabalho seria um mar de rosas, ou algo parecido. Tem dias em que eu tenho estes sonhos encantadores, de pátios sem cachorros, medidores sem defeitos e beldades abrindo os portões e recebendo-me com suaves "Olá's". Sonho tão diferente da realidade madrasta. Primeiro porque toda pessoa que faz alguma sacanagem no seu medidor de energia compra, em seguida, um cachorro. Segundo porque, mesmo que a pessoa não tenha aprontado nada, ela compra um cachorro só pelo prazer de ver-me ferrado.
Ferrado sim, porque o sonho de infância de todos os cachorros é ferrar os dentes nas minhas canelas finas.
Sinceramente, eu sou magro, sequer tenho carne nas canelas. Porque esse desejo incontrolável de morder minhas pernas? Eu não entendo...
Mas, voltando ao mote do texto: porque chutar um cachorro que tenta te morder é errado? Porque ele tem sentimentos? Talvez. Mas mais do que isso, chutar um cachorro é errado porque o dono dele também tem sentimentos.
E a última coisa que eu devo fazer é irritar o dono. Eu já estarei me livrando do "gato" (denominação nada técnica para as irregularidades nos medidores de energia) que ele tinha. Se eu me livrar do cachorro também é quase certo que o infeliz irá ficar uma arara. E daí amigo, daí deu zebra. Burro serei eu que terei cutucado a onça com um canudinho de refrigerante. O espertalhão se tornará um elefante desgovernado, correndo como um lobo faminto, e vendo-me como um franguinho pronto a ser devorado. E como eu não sou realmente um frango, voar por sobre a cerca e fugir não será opção. E nesta hora de desatenção e insanidade animalesca é que o cachorro recém chutado irá vingar-se.
Depois deste parágrafo que mais parece um zoológico, creio eu que vocês tenham entendido o porquê de ser errado chutar um cachorro.
Claro, o ato de chutar implica em problemas, mas eu devo afirmar que, sinceramente, ver um poodle voando alguns metros e caindo sentado na grama é algo encantador.
Vale a pena ter de correr como um condenado depois de ter visto isso.
E aos protetores dos animais que lerem este texto, fica o recado: pode parecer maldade, mas se eu não chutá-los, eu sou mordido. É a lei da selva: "quem chuta primeiro, chuta por mais tempo."