A coisa certa a fazer...

Quem nunca se viu frente-a-frente com uma encruzilhada?

Quem nunca deparou-se com uma bifurcação no caminho de sua vida, com a necessidade de tomar uma decisão em detrimento de outra, com a obrigação de deixar de lado certas coisas para se lançar em outras?

Todos já passaram por isso. É natural, quando se é um ser humano. Mesmo as pequenas coisas nos apresentam alternativas contrárias. Quando se é criança, você escolhe, por exemplo, torcer para um time, em detrimento ao rival.

Claro, essa é uma decisão trivial, mas mesmo assim, é uma escolha que marcará eternamente a sua vida.

Porém, várias vezes nós encararemos escolhas muito mais importantes. E é nessas horas que devemos fazer a escolha certa.

Simples, não? Seguir pelo lado correto da estrada, guiar o carrinho que representa a sua vida pela mão certa da rua que simboliza a vida. Tudo tão fabuloso, tão descomplicado, não?

Não.

Escolher o caminho certo é praticamente impossível. Porque? Dois singelos motivos.

Primeiramente o mais objetivo: qual é o caminho certo? Parece uma pergunta fácil, mas com o passar do tempo nós notaremos que a escolha não se resume a ir por um lado ou o outro. A decisão envolverá milhares de fatores. Saber como cada caminho o afetará, ou como afetará as pessoas ao seu redor.

Conhecer as consequências de recusar uma forma de vida, pensar em tudo que se estará deixando para trás.

Muitas pessoas acham que agir sem pensar facilita a decisão. Bobagem. Agir sem pensar pode parecer belo em filmes, mas na vida real, é uma chance de 50% de dar tudo errado. Eu não sei vocês, mas eu sou extremamente paranóico. A idéia de apostar tudo e lançar o dado, sem controle nenhum sobre o resultado, podendo apenas rezar, causa-me arrepios. Por pior que possa parecer, eu prefiro ter o conhecimento da situação. Eu sou o tipo de cara que fica do lado do técnico em informática durante uma hora, perguntando sobre todos os movimentos que ele fizer. Eu preciso saber como e porque aquilo está acontecendo, e como será resolvido. Ou talvez eu seja apenas chato, enfim...

Decidir é complicado, seja você uma pessoa confusa ou não. Raros seres humanos nascem com a dádiva da ataraxia (como eu já citei em outra crônica, este é o termo usado para classificar pessoas que não se preocupam com absolutamente nada), a grande maioria será eternamente atacado pelo sentimento de incerteza, de arrependimento por certas escolhas. Afinal, todos temos arrepentimentos. Uns mais, outros menos, mas todos temos. Quando aquela boazuda da sua classe/sessão disser que viveu a vida sem arrependimento, creia-me, ela está blefando. Pode ter certeza que pelo menos uma vez na vida ela engordou e arrependeu-se de ter comido aqueles doces.

Resumindo, escolher não se concentra em ir por "aqui" ou por "ali".

Mas este sequer é o fator mais complexo.

O que, para mim, torna o ato de escolher o caminho certo mais complicado é o segundo motivo: esta é realmente a coisa certa?

Certo, isto parece uma repetição da primeira razão, apenas com palavras trocadas. E de fato, é mesmo. Mas o conceito é levemente diferente. O que é "certo"? O que é bom para você? Mas o certo para você pode não ser o certo para os outros. Lembre-se que as suas decisões afetam diretamente outras pessoas. Você ter escolhido torcer para o Grêmio irá afetar lá adiante em sua vida o seu relacionamento com aquela boneca da escola, justamente por ela ser colorada. A escolha afeta a sua vida, mas afeta a dela também. E este é só um exemplo estúpido. Muitas vezes você terá de escolher entre mudar ou continuar seguindo um caminho. Muitas vezes, mudar significará deixar para trás pessoas e costumes que você ama. Então, lhe parece óbvio que o caminho certo é seguir em frente. Mudar não é aceitável, certo? Nem sempre...

Há momentos em que uma mudança se faz necessária. Há momentos em que você pode seguir o caminho fácil, mas isto implicará em estagnação. Há momentos em que o caminho errado é o melhor. O caminho longo e tortuoso, com final duvidoso. Soa muito poético, mas há momentos em que o ser humano precisa trilhar sua jornada sozinho. E nestes momentos você perceberá que o caminho certo será aquele menos indicado. Aquele que causará mais dor e sofrimento. É como uma cirurgia. Você precisa daquele sofrimento para continuar vivendo.

Não é sempre, mas há momentos em que a dor é o melhor remédio.

Soa assustador, eu sei, mas cada vez mais eu percebo que em certos momentos o aconchego do lar e dos amigos, as certezas do lado iluminado da vida, todas estas dádivas irão atrapalhar o seu caminho de auto conhecimento.

Vai parecer loucura, mas só quem pode te entender é você mesmo. E se você não consegue isto, entender a si mesmo, você não pode oferecer compreensão aos outros.

Neste caso, a coisa certa a fazer é largar tudo e tentar encontrar-se. É ruim, é terrível, é assustador, é doloroso. Mas acredite, é a coisa certa a fazer.

Não se preocupe com o arrependimento, você irá sentí-lo depois, pode ter certeza.

Para certas escolhas corretas, arrependimento e dor são os preços a se pagar. Mas, segundo dizem,a recompensa vale a pena...