Aproveitando a calma da manhã bati um papo com Deus

Hoje eu fui, as cinco horas, levar meu marido no trabalho, e, aproveitando a calma da manhã bati um papo com Deus, que é excelente companhia para conversas à essa hora.

Primeiro agradeci a ele o privilégio de conhecê-lo, de poder amá-lo e de encontrar, sempre, refúgio em seus braços fortes e seguros de pai. Sempre me angustia um pouco o fato de haver pessoas que conhecem apenas a figura do carrasco sanguinário, do negociante de almas, de juiz implacável, imposta pelas igrejas, desde que a imagem de Deus se tornou excelente fonte de comércio, manipulação e poder. Sempre me angustia muito o fato de ainda haver pessoas que dependem dos outros para falar com Ele e que só se aproximam dele para pedir o que Ele já dá, generosamente, sem ninguém peça; essa imagem de um deus que só dá alguma coisa se você fizer sacrifícios, votos e coisas que tais, é referência pura a Mammon, a Baal e a outros deuses mesopotâmicos, babilônicos e por ai. O deus das igrejas, de alguns padres e pastores, não dá mesmo pra aceitar, nem acreditar; reduzido às proporções ínfimas da mente humana, esse deus escravista, cego, injusto e vingativo, definitivamente não é meu pai.

Não é, certamente, o pai onde encontro sempre o consolo na tristeza e na dor, que me vêem como aprendizado e nunca como castigo; nem na alegria, no amor e na felicidade (sempre maiores do que as tristezas) que Ele me proporciona dia a dia.

Não peço o que julgo não merecer, e Ele sempre me dá o que preciso. Jamais chamei por Ele sem que me ouvisse, sinto sua presença junto de mim a toda hora e vejo no outro, por pior que seja meu irmão em humanidade.

Como não sou nada perfeita - aliás, tenho os dois pés na imperfeição, ainda "chafurdo na lama dos desejos humanos" com mais empenho do que gostaria (O T-Rex concorda), e tenho certeza que não deixarei de "chafurdar" tão cedo - me falta a paciência, a caridade e a boa vontade com esta humanidade da qual faço parte. Sou preconceituosa com gente burra, metida a besta e cretina. Detesto maloqueiro (tenha ele dinheiro ou não). Costumo desprezar as convenções e dogmas. Defendo minhas idéias agressivamente. Não sinto pena de quem faz merda, de quem se droga, de quem é corrupto. Defendo o castigo severo para pedófilos e sequestradores (exceto a pena de morte, por que morrer é nada. Morreu pronto!). Não perdoo certas ofensas. Não acredito em fidelidade sem critérios e nem no amor eterno (a não ser o de Deus). Sou preguiçosa, fumante e adoro uma farrinha.

Em compensação não tenho nada contra a opção sexual dos outros, não avalio as pessoas senão pelo seu caráter, sou paciente com gente ignorante, tô nem ai para a opinião dos outros a meu respeito, não tenho vontade de me vingar de "seu ningas", não aponto faltas que não sejam minhas, não me meto na vida alheia, não tenho inveja, nem cobiça.

Cheguei em casa por volta das cinco e meia, contente que só, pronta pra enfrentar minha rotina cabulosa de pratos, panelas, vassouras, máquina de costura, leva-fulano-não-sei-onde, pega-fulano-não-sei-onde, digita isso e aquilo e ai, Deus me deu um sorriso imenso, através do sol que nascia, feliz e cantou uma canção alegre nos meus ouvidos, ou pelo menos, mandou que os bem-te-vis o fizessem para que eu soubesse, com toda a certeza de que ele também me dava um alegre "Bom Dia!"