"Na alegria e na tristeza..."
“Na alegria e na tristeza...”
O mundo está mudando. A vida está mudando. E a pequena cidade também está mudando.
Há poucos anos atrás, aconteceu um marcante acontecimento na pequena cidade do norte pioneiro. Ali mora um rapaz que nunca escondeu sua tendência gay. De uma família muito honrada. Seu pai foi cerealista, vereador e muito conhecido na região. Carlos, como aqui chamaremos, era muito inteligente e trabalhador. Foi até cabeleireiro. Mas se destacou mesmo foi como decorador de ambientes onde ganhou muito dinheiro. Viajou muito. Mas finalmente voltou para a sua cidade.
Quando sua mãe morreu ele disse:
- Agora vou soltar as frangas! Só não fiz antes temendo que minha mãe me repreendesse!
E assim fez. Começou a travestir-se. Ir a bailes vestido de mulher. Enfim, usar o lado feminino que possuía. Até que deu uma loira muito bonita. Carlos Pereira ficou muito tempo se divertindo e divertindo as pessoas. Ele adotou um nome: Sofia.
E Sofia viu que era só, então pensou arranjar um marido. Procurou, procurou, até que apareceu um tal de Nildo. Sofia tinha um certo capital e uma certa posição na sociedade. Nildo não tinha um gato para puxar pelo rabo, era muito pobre. E começou a conviver maritalmente com Sofia. Era Nildo quem dirigia o caminhão da “moça”. Faziam piqueniques, iam para os Clubes Náuticos da região, iam a bailes, etc. Sempre os dois e os irmãos de Nildo. Um dia Sofia perguntou se Nildo queria se casar com “ela”. Nildo topou imediatamente. Marcaram a data. Então começaram a preparar o cerimonial. Criaram um contrato. Chamaram um pastor. Alugaram o clube da cidade. Decoraram. Flores e até um longo tapete vermelho. Ficou muito chique. Foi uma festa de gala. Com direito a bufê e tudo. Sofia gastou muito com seu vestido de noiva. Mas ficou muito linda. Até alguns canais de TV e jornais, estiveram presentes ao acontecimento do ano. Para a pequena cidade aquilo foi um choque.
Um fator muito bonito e até emblemático, foi quando Sofia, foi conduzida ao altar pelo pai do noivo. Aliás, todos os parentes de Nildo ali estavam. Mas de Sofia ninguém se arriscou. Então durante a cerimônia Sofia empunhou um microfone e fez uma declaração de amor, chorando:
- Não há nenhum de meus parentes aqui!...Mas não faz mal!... Meus parentes doravante serão os parentes de meu marido!
Eles foram muito aplaudidos pelos presentes.
Até hoje eles vivem muito bem na sua pequena e pacata cidadezinha.
Theo Padilha, 17 de setembro de 2008.