UM AMIGO NOTA DEZ...

Em todos os grupamentos humanos sempre há alguém que se destaca. Quer pelo lado fraternal. Quer pelo lado material. Quer pelo lado folclórico. Nosso amigo fez tudo isso. Não era bom de bola, mas sempre foi titular nos times que jogou. E não era o dono da bola. Fez de tudo. Da lavoura a empresário. Foi funcionário da prefeitura no setor de saneamento. Trabalhava no SAE. Morreu muito cedo. Ele tinha ido a Londrina buscar um carro para um colega. E o carro capotou na saída da cidade. Acha-se que ele morrera no volante, antes do acidente. Pois tinha problemas com a doença de chagas.

Gostava de caçar de espingarda. Formou um grupo de amigos que saiam todos juntos para as caçadas. Certa vez ele descarregou a espingarda nos companheiros que tiveram que se deitar no meio da caatinga para não ser atingidos pelos chumbos dele.

Outra vez, apareceu um concurso na cidade de Londrina. Era para auxiliar de justiça da Junta de Conciliação e Julgamentos que estava aberta em Cornélio Procópio. Nosso amigo tinha uma Kombi e não foi difícil conseguir dez pessoas para fazer a lotação para o concurso. Nosso amigo sempre usou roupa branca. Calça e camisa brancas. Ele era moreno. Quase negro.

Depois de andar um bom tempo, quase chegando a Londrina, ele parou a Kombi e o pessoal saiu para urinar. Todos desceram. Nosso amigo, que era o motorista, andou um pouco no meio da soja. Disse que iria defecar. Havia chovido, e o barro no meio da roça era vermelho. Quando voltou todos notaram uma pelota de barro vermelho grudada na sua calça branquinha. Alguém quis contar. Mas um de seus velhos amigos disse:

- Nem falem nada! Senão ele volta daqui e nós vamos perder o dinheiro da inscrição!

E ninguém falou nada. Ele foi e fez o exame com aquele emplasto na trazeira. Mais tarde, já almoçando na casa de um amigo, em Londrina é que contaram para o rapaz. Ele quase chorou de vergonha.

- Por que não me avisaram, cambada de safados!

Mas antes de chegar no concurso, assim que chegaram a Londrina, esse nosso amigo, perguntou para um menino que entregava jornais:

- Ei, menino! Onde fica a rua Vicente Rijo?

- Eu num sei não! – respondeu o menino, com certo pouco caso. O nosso amigo ficou fulo. E disse para o menino:

- Seu filho da puta, por que você não enfia esse monte de jornal no c...? Lá em Joaquim Távora eu conheço todas as ruas!

Aquilo foi o máximo para a turma. Ele além de trabalhar no serviço de águas e esgoto, ainda quis comparar a cidade com Londrina.

Num baile de carnaval, o rapaz sem querer, bateu na poupança de sua mulher. Ele foi batendo no rapaz até na rodoviária que ficava perto do clube. Gritando:

- E suma daqui seu malandro!

Torcida brasileira... Estamos falando do Índio, o falecido Lenoir, o Leno, que até hoje faz muita falta nos nossos grupamentos. Oxalá Deus o tenha ao seu lado. Ele era muito bom.

Theo Padilha, 16 de setembro de 2008.

Theo Padilha
Enviado por Theo Padilha em 16/09/2008
Reeditado em 16/09/2008
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