"ESCREVEU E NÃO LEU..."
“ESCREVEU E NÃO LEU...”
Ademir era um rapaz que adorava jogar tênis de mesa, voleibol, basquetebol, futebol e caçar. Ele era o melhor jogador de pingue-pongue da cidade. Seu pai era fiscal de rendas, ou coletor como era chamado naquela pequena cidade.
O rapaz costumava pegar sua bicicleta, sua espingarda e chamar sua cadelinha para as caçadas. Ademir andava sempre só. Achava que os amigos atrapalhavam suas caçadas
Ele gostava de efetuar trocas de objetos. Aqui nós chamamos de rolista. Ademir trocava tudo. Relógio, rádio, bicicleta, etc.
Certa vez ele trocou um relógio numa cadelinha que o dono disse que ela era caçadora de codorna. O relógio valia uns trinta cruzeiros. Feita a troca, na primeira oportunidade Ademir saiu contente para a caçada. Saiu cedo, às escondidas, a polícia já começava a se preocupar com os caçadores e pescadores da região.
Espingarda a tiracolo, bornal, lanche, bike, e a cadelinha. Ele deu umas voltas de bicicleta, mas a cadelinha não o acompanhou. Já começou a ficar nervoso. Chamou... Chamou... Ela não veio. Pois ele voltou e amarrou a cadela na bicicleta. E foi embora quase arrastando a cadela. Quando chegou no lugar que costumava caçar, Ademir soltou a cachorra, ela deu umas voltas, correu, tomou banho de poeira, urinou e foi se deitar numa sombra. O mato estava cheio de rolinhas. As codornas saiam da moita a cada passo de Ademir. Mas a cadela nada!
Lamentavelmente, o rapaz não pensou duas vezes, apontou a espingarda para a pobre cadela e estourou os miolos do pobre animal. E nunca mais caçou.
Theo Padilha, 16 de setembro de 2008.