POR EU SER COMUM E DESEJAR BRILHAR
POR EU SER COMUM E DESEJAR BRILHAR
Marília L. Paixão
Às vezes penso que nem os sábios são sábios. Ás vezes penso que nada penso se tem uma tarde querendo me amordaçar as mãos, os pés ou as letras da vida.
Numa dessas vezes eu acabo botando um ovo de ouro e o fico observando divagar.
Olho e olho e fico até com medo de pegar. Tento transformá-lo em espelho e se lá dentro me vejo acho melhor não tocar. Talvez se eu tocar eu possa não mais estar lá...
Não! Não quero sair de dentro do ovo de ouro por eu ser comum e desejar brilhar.
Pois eu desejo ser brilho feito o brilho de uma pedra.
Pois eu desejo ser brilho feito o brilho de uma lâmpada.
Seria tão gostoso poder ser o brilho da água!
E se não der para ser brilho sequer de uma faca amolada,
Poderei simplesmente ser mais uma página rasgada.
Mas depois farei outras
E mais outras
E outras
Até que finalmente
Alguém reconheça algum brilho e lhe dê sentido
E passe a se importar com todas as outras páginas.
Afinal, o brilho é de quem o consegue ver.
Ao escrever falo de mim, de você e do inesgotável mundo.
O brilho não está no que escrevo, mas em como nos vejo enquanto protagonistas de nossas próprias histórias e em como você se vê.
Somos todos atores neste mundo em que me disfarço de mim e você.
Às vezes me visto de pedra querendo ser lâmpada
E se não consigo ser uma faca amolada por mais que aumentem as páginas rasgadas...
Sou água deslizando por nada.