POR CONTA DA ESCRITA
POR CONTA DA ESCRITA
Marília L. Paixão
A cidade se veste de chuva e eu me visto de você. Passei as camisas e bem que eu gostaria de folhear umas revistas. Pendurei as calças e os cintos e não sinto muito por você ter ido sozinho e me deixado na sombra dos sonhos em que tanto te amo.
Se eu lhe fazia uma boa comida era porque para você ela valia ouro. E se te dei bons filhos é por que juntamos nosso ouro e eles ficaram com o melhor dos brilhos. São tantos retratos pendurados e tantas roupas lavadas nesta mesma manhã...
Acabei de ensaboar aquela camiseta na qual você mais amava transpirar quando praticava um dos seus esportes prediletos. Parece que ela revela toda sua virilidade. Como pode um suor de um único homem valer pelo de todos da humanidade?
Você realmente poderia ser um modelo que adoraria ter todas as mulheres, mas eu fui lhe pertencer primeiro e te roubei de todas as outras que poderiam vir depois de mim. Ao comprar as gravatas eu já sabia que ficaria mais lindo que o mais famoso ator de cinema e era assim que eu lhe queria.
Elas, todas as outras que ficariam babando, as chamadas cachorras, vadias ou infelizmente apenas mulheres sós, não me incomodavam por que eu também me sentia bonita. Podia até morrer de ciúmes, mas isto era coisa da vida, e da arte era o meu parecer que ciúme não tinha.
Daqui a pouco colocarei para secar mais coisas da nossa história. Tem bastante espaço no varal. Minhas mãos continuam fortes, apenas menos bonitas. Deixo a beleza ir se espalhando por conta da escrita.