FILOSOFIA E POESIA
Heidegger diz que “o poeta e o filósofo habitam montanhas muito próximas separadas por profundo abismo”. Caracterizar esta proximidade e esta separação seria tarefa difícil, tanto aos poetas quanto aos filósofos. Poesia não é filosofia e filosofia não é poesia. O campo de liberdade por onde caminha a poesia não seria indicado a visitação filosófica, diriam aqueles que não aceitam a aproximação da Filosofia com a literatura. Respeito, mas...
Enquanto a poesia voa livre e cria o seu próprio movimento e até a própria verdade, a filosofia pretende cingir-se ao real, ser ciência da ultimidade, dos princípios inteligíveis do ser. Neste sentido parece claro que Poesia e Filosofia opõem-se pela forma de pensamento e de expressão. Entretanto a grande poesia, mesmo quando explicitamente não trabalha sobre motivos filosóficos, traz à luz a verdade dos grandes temas humanos.
Por acreditar que toda expressão artística é uma forma de aproximação entre a Filosofia e cotidiano o FILOSOFARTE resolveu encerrar a VIII Semana de Filosofia com um Recital de Fernando Pessoa. Foi um momento único. Acredito que Fernando Pessoa é, talvez, o poeta de língua portuguesa em que a poesia e a filosofia mais se aproximam, apesar do abismo que as separa.
Fernando Pessoa, e seus vários heterônomos, dão à língua em que se exprime uma maleabilidade que a torna apta para exprimir um pensamento metafísico, ontológico. Um estudo mais aprofundado da linguagem ontológica de Fernando Pessoa mostraria possibilidades expressivas da língua portuguesa, no domínio essas características. Não pretendo aprofundar esta discussão, apenas registrar minha paixão por estes temas, pois acho (e aqui é achismo mesmo, pois não tenho conhecimento suficiente para fazer uma afirmação categórica) que F. Pessoa é o único escritor na literatura portuguesa onde o tema-base da obra poética seja a meditação metafísica sobre o ser.
A linguagem filosófica de F. Pessoa e as imagens poéticas carregadas de sentido metafísico e os seus heterônimos podem ser desveladas à luz da sua meditação sobre o ser, e a sua aspiração em compor um drama que condensasse a sua maneira de ver o mundo, o homem e a si mesmo. E foi assim, que criando uma atmosfera dos anos vinte eu, Ailton e Etevaldo, acompanhados do violão e gaita de Micael (aluno de música) recitamos várias poesias de Pessoa.
Não tenho mais a energia dos tempos de juventude, quando fazer teatro era uma grande paixão, mas confesso que tenho gostado de voltar aos palcos e recitar Fernando Pessoa foi emocionante. A platéia, formada por professores e alunos de Filosofia, adorou. Como é bom receber o abraço amigo. O beijo carinhoso das pessoas que admiramos. O conferencista da noite, Dr. José Rufino, da Universidade da Paraíba, disse ao diretor de nosso departamento que estava encantado com nosso trabalho. Esse é o cachê.
*Da Série: Literatura &Filosofia.
* Foto tirada (por Allan) antes de entrar em cena, produção feita por nosso maquiador (o nome fugiu-me agora).