Marília

Marília sorria satisfeita por ter conseguido a vingança desejada desde quando se apaixonara por Renato.Ele a iludiu o quanto pode, traiu, e finalmente deu-lhe um “chega pra lá” assim que conseguiu uma namorada mais jovem e bonita. Depois da história de nove meses juntos, ela costumava dizer sempre, como idéia para vida, que o amor é um filme de final trágico.Nem sabia ao certo que fora amor, mas podia jurar que jamais sentiria algo tão forte por alguém. Renato nem era tão bonito, mas possuía um charme de libriano que matava qualquer uma no olhar, sua inteligência era limitada aos assuntos informais e conquistas específicas a cada estilo de mulher. Marília viveu quase três anos de angústia, de raiva, e vez por outra, ainda ficava feliz por qualquer elogio fingido de Renato, quando a encontrava nas festas, e vinha ao seu ouvido sussurrar-lhe as frases mecânicas e ultrapassadas, mas assim mesmo conseguia arrancar um sorriso interno, um riso que somente ela sentia, e quase a fazia flutuar como se ingerisse uma droga.

Certo dia Marília encontrou Marcos Antônio, o pai de Renato, num restaurante discreto da cidade, cumprimentou-o com elegância, e sentou-se um pouco atrás dele, de forma que podia observa-lo sem ser percebida.E assim fez, achou em seus gestos, a forte presença charmosa do filho, com a única diferença do pai ter uma maturidade mais peculiar no olhar. Ela ficou imaginando como seria em momentos íntimos, em ser amparada por suas mãos tão belas!Em algum momento ele virou para trás para chamar o garçom; ela se refez como se saísse do sonho e disfarçasse que não estava sonhando.Em pouco tempo ela pôde contempla-lo novamente, respirou fundo e chegou a uma conclusão: A culpa é dos cromossomos! Claro! A culpa só podia ser dos cromossomos, quem dera se os filhos não herdassem tal beleza de certos pais, e não usassem isso como massacre de corações alheios! Por um momento estranho ela sentiu raiva de dois! Pai e filho num mesmo complô!

Meses em frente Renato a surpreendeu numa ligação, seria real? Em pleno fim de semana ligando para fazer-lhe um convite? E ainda um romântico passeio? Não! Não podia ser a mesma pessoa, no mínimo tinha apostado com os amigos que ainda conseguia te-la. Ela pensou friamente e humildemente aceitou o convite de ir a praia à noite.

Era sua chance de dar o troco, não sabia se ia resistir, mas tinha que tentar.

Rabiscou nervosa um esboço de mensagem e até chegou a escrever no celular “ A minha presença é lembrança e tuas mentiras te deixaram só, mas o mar ainda está lá!”. Não sabia ao certo se enviaria a mensagem.

Shauara David
Enviado por Shauara David em 04/09/2008
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