MILAGRES ACONTECEM
Li uma crônica de Bemtevi com este título e fiquei pensando no tema. Eu, apesar de católica, acreditar em Deus, reconheço que minha fé é pouco ortodoxa. Mas acredito em milagres, contra toda lógica (mas não sou mesmo boa de lógica) e razão.
Eu acredito que meu pai foi agraciado com um milagre. Não encontro explicação científica para seu caso. Portador de um CA de pele ele abandonou o tratamento na sétima aplicação de quimioterapia. Teria que tomar doze. Todos pedimos para ele continuar. Ele recusou-se, dizia que a quimio é que estava deixando-o doente. Respeitamos sua decisão. Três meses após ele começou a sentir dores.
Uma crise de vesícula. Precisava ser operado. Foi. Na sala de cirurgia ele passou mal e não conseguiram tirar a vesícula, havia um grande sangramento interno. Foi “fechado” e levado para UTI. Ficou lá uma semana. Recebeu alta. Quinze dias depois voltaram às dores. Novamente internado começaram a surgir complicações. Queriam transferi-lo para um hospital de doenças infectocontagiosas.
Fui falar com o médico. Ele disse que papai estava com uma anemia muita grande, precisava tomar sangue e tinha uma infecção generalizada que ele não sabia identificar. Era preciso fazer uma série de exames. Perguntei se ele tinha sido informado que papai era paciente com CA. Ele olhou-me, jogou os exames que tinha nas mãos e disse: leve-o para morrer em casa.
Fomos dizer a papai que ele iria para casa, não ia mais ser transferido. Ele sorriu e disse: é melhor, não ia mesmo para lugar nenhum. E começou o calvário, ele não se alimentava, não queria ir para o hospital tomar soro (dizia que não agüentava mais ser furado) e definhava dia após dia. A casa vivia cheia. Seus amigos, seus filhos, 24 ao todo, vinham do vários lugares visitá-lo. Ninguém acreditava que ele resistisse.
Um dia o padre foi chamado para dar a unção dos enfermos. E pela primeira vez vi papai rezar. Quando ficou sozinho com a sua mulher, ele sussurrou: as palavras desse padre me salvaram. E aquela que pensamos ser a última noite, foi um recomeço. Ele começou a reagir. Voltou a alimentar-se. Uma semana depois já levantava-se sozinho da cama. O médico que o havia operado foi visitá-lo e pediu uma série de exames e aconselhou-o a procurar o antigo oncologista. Ele negou-se a fazer os exames. Disse que só faria quando estivesse bem. E assim fez. Um mês depois, já corado, andando sozinho para todo canto, fez os exames. Tudo normal. Nem anemia. Repetiram os exames, confirmado, ele estaca clinicamente bem.
Dias depois, no barbeiro, ele encontrou o padre que dera a unção dos enfermos e disse:
- Padre, posso apertar sua mão?
- O padre olhou e perguntou: É seu Chico Bonifácio?
- Sim, disse ele, eu sou o homem que o senhor salvou com aquelas palavras.
O padre, visivelmente emocionado abraçou-o. Minha sobrinha, que é devota de Irmã Lindalva, uma freira que foi violentada e morta em Açu, cujo processo de canonização está em andamento, diz que foi milagre dela. Não sei, apenas acredito que este é um caso onde Deus agiu. Que caminhos Ele escolheu não sei. Hoje papai está gordo, bonito, saudável, acreditando em Deus e freqüentando a Igreja, que ele evitava.
N. A: Dois anos depois papai morreu de acidente.