Como fazer cerveja em casa
Estava assistindo a um programa desses de culinária que passam pela manhã quando ensinaram uma receita de cerveja caseira: um litro de chá amargo de não sei o quê, uma colher de fermento, deixa descansar por um dia em temperatura ambiente, depois côa em filtro de papel daquela marca patrocinadora do programa e coloca na geladeira para gelar.
Não é que o chá ficou igualzinho a uma marca de cerveja muito conhecida. E nem era feito com cevada. Se fosse, então, certamente ficaria bem melhor e teria que abrir concorrência para a fabricação da dita cuja. Sentia o gostinho frisante da cerveja gelada descer pela goela quando se deu conta de que podia fazer não cerveja com aquela receita, mas champanhe. Sim. Parecia um vinho frizante com cor e gosto de cerveja, então, daria certo se fizesse com suco natural de uva. Mas não tinha uvas em sua casa. E nem suco natural. Mas havia um pé de amoras carregadinho no quintal. Foi lá, apanhou uma bacia cheia de amoras. Dois quilos aproximadamente. Daria para fazer o estoque de um ano de vinho tinto de amora, ou champanhe, sabe-se lá o que seria o resultado final...
Lavou cuidadosamente aquelas amoras graúdas e madurinhas. Retirou os talinhos com cuidado para não estourar as amoras na mão. Terminou já era tarde. Teria que guardar a fruta para fazer o champanhe no dia seguinte porque a noite o clima era mais frio e o calor do dia ajuda a fermentar a garrafada. Sentiu água na boca de vontade de provar o resultado final, mas teria que esperar até o dia seguinte, não teria mesmo jeito.
Acordou bem cedinho, bateu as frutas com um pouco de água no liquidificador e lá estava um caldo vermelho e encorpado para o seu champanhe de amoras. Adicionou então uma colherinha de fermento para cada litro, conforme recomendava a receita.
Licor já havia tomado, mas champanhe de amoras nunca. Seria a primeira vez e sentia-se emocionada. Correndo, colocou o líquido em uma garrafa plástica de dois litros e ainda sobrou um pouco que encheu uma garrafa de vidro. Tampou as duas garrafas e colocou-as juntas. Lavou as mãos cuidadosamente e deixou as garrafas em um cantinho antes de ir trabalhar. Esqueceu-as o dia inteiro ali naquele clima quente, em cima da pia e nem pensou em seu champanhe até voltar para casa à tardezinha. Ao abrir a porta, sentiu da entrada um cheiro forte de cerveja e não conseguia se lembrar de onde poderia ser aquele cheiro.
Ao chegar na cozinha, olhou para as paredes vermelhas e o chão todo ensangüentado de amoras. Uma das garrafas havia estourado com a pressão do fermento fervendo no calor daquela cozinha abafada, fazendo com que cacos de vidro se espedaçassem pelas paredes. Sinal de que a experiência funcionara.
Ainda restava uma garrafa, a maior, para ela degustar e provar se valeu a pena ou não fazer toda aquela bagunça. E ademais, era só jogar água, sabão e esfregar, esfregar, esfregar para limpar as paredes. Ainda bem que eram azulejos! Se não fosse, teria que conviver com a nova decoração porque não tinha dinheiro para uma pintura nova naquela altura do ano.
Vagarosamente, foi abrir a garrafa de plástico para coar, colocar na geladeira e provar assim que terminasse a limpeza da cozinha. Mas eis que a garrafa começou a espumejar licor de amora por todos os lados e teve que sair correndo de perto, já toda encharcada com aquele chafariz formado pela garrafa e pelo líquido vermelho que saía dali de dentro com toda pressão possível.
Ficou parada diante da porta, olhando, até que a garrafa silenciasse. Riu-se, limpando com as mãos o líquido vermelho que escorria pelo rosto e se espalhava pelo fogão, pela pia, pela geladeira e mais uma vez pelas paredes de azulejos branquinhos. Sobraram apenas dois dedinhos do líquido no fundo da garrafa e ela bebeu sem gelo nem nada. Afinal, era uma vitoriosa, tinha que comemorar o bom funcionamento de sua experiência que cheirava a cerveja e tinha gosto de vinho frisante. Valeu a pena, afinal, estourar o champanhe daquele modo.
* obs: Não tente isso em casa porque pode funcionar realmente!
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