Chegar em Casa
Nunca fui daquelas pessoas que se matam pelo trabalho, talvez isso mude, afinal minha experiência ainda é muito tímida, não sei. Gosto de trabalhar, do dia-a-dia, do computador que lhe espera, do pessoal, mas não posso esconder a minha impaciência pra chegar a hora de voltar pra casa.
Meu primeiro emprego foi no centro da cidade, era num banco de esquina no final de uma ladeira. Logo adiante ficava uma igreja que diariamente, ao meio dia, badalava o sino 12 vezes seguidas.
Hoje isso me traz alguma nostalgia, mas na época que acontecia era como se me lembrasse que dali a duas horas eu estaria livre. Era a hora de ir pra casa.
Isso sempre me ocorreu, quer na faculdade, no estágio, nas viagens... Tudo era maravilhoso, mas sucumbia à vontade de chegar em casa. Causa-me estranheza o contrário dos outros que a rua emite muito mais simpatia que o seu canto.
Conheço pessoas que dão seu sangue, que passam horas a mais, que correm, suam, jogam bola, sobem escadas e quando chegam em casa mal conseguem levar um garfo à boca. Estão tão exaustos que o ruído das vozes das pessoas ao redor parece um show de rock com decibéis fora do permitido.
Se há alguém longe, ligar fica como obrigação, porque o cansaço é tanto que só há tempo de dizer que já vai desligar porque está morrendo de sono.
Acho que no padrão que a vida nos impõe, nesse pós-mordenidade, de correr o tempo inteiro, gostar de chegar em casa como gosto parece antiquado, ou melhor, fora do sistema.
Talvez pense assim pela minha experiência mínima de trabalho, quem sabe eu não termino a faculdade com os olhos brilhando e trabalhar apareça como algo extraordinário e sinônimo de felicidade e, com isso, pare de pensar diferente. Mas enquanto isso não vem, vou continuar chegando em casa e abraçando o meu, tomando banho e passando perfume para não fazer nada. Ligar pra quem está longe sem pressa, afinal eu estou em casa e tenho todo tempo do mundo pra quem nele está.