DE OLHOS ABERTOS

Você me fez amá-lo de olhos abertos. Despertou-me do sono bom e leve que eu tinha para o turbilhão da realidade, onde as pessoas se vingam, mentem e sentem-se senhores de tudo.

Amar você de olho aberto me trouxe tristeza, uma sensação ruim que aperta o peito e ao mesmo tempo traz agonia. É como enxergar por entre paredes, é falar com pessoas vendo além da pele, é ver o carro e ao mesmo tempo as explosões do motor.

Sinto falta do tempo em que fechava os olhos no final da tarde esperando no celular um toque seu. E ele chegava. Fechar os olhos me fez feliz por muito tempo e acreditei que eu era a pessoa mais sortuda do mundo, porque a perfeição chegava bem perto da minha vida.

Abri os olhos agora me causa estranheza, tem horas que acho que é incompatível com a expressão “amar alguém”, mas foi assim que você vem me amando todos esses anos, não é? Talvez o equívoco seja meu (deve ser meu período de transição) e quem sabe essa é a maneira mais verdadeira, deve ser, porque cada vez que insisto em fechar os olhos você me sacode, aciona a sirene e joga água gelada no meu rosto. Aí o sono passa e os olhos se arregalam outra vez.

Acho que com o tempo me acostumo em beija-lo de olhos fechados, amando-o de olhos abertos.

Madalena Sofia Galvão Viana
Enviado por Madalena Sofia Galvão Viana em 21/08/2008
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