Quase um ferroviário...
Quase um ferroviário...
A velha estação não existe mais. Foi destruída quando a estrada de ferro perdeu a corrida para o asfalto. Mas a lembrança do enorme quintal ainda está viva em meus pensamentos.
O calor excessivo. O canto das cigarras. E até o silêncio que pairava sobre as árvores está vivo neste nostálgico cenário. Quando eu era menino gostava de brincar sozinho sob as mangueiras que ficavam atrás da estação de Conselheiro Zacarias. Meu pai era guarda-chaves da RVPSC. Minha mãe tinha o hábito de gritar meu nome quando precisava de mim.
- Tiãozinho! – ela gritava. E eu respondia, mas às vezes, ela só queria saber onde eu andava. Eu não vinha. Tudo estava certo com a minha resposta. O engraçado é que na venda próxima dali, havia um papagaio, que aprendeu a gritar: - Tiãozinho!
Eu continuava com a minha brincadeira. Eu achei um ferro de passar que não tinha a parte de cima. Então eu punha uns gravetos naquele ferro e o fazia de locomotiva. A composição do meu trenzinho eram tijolos e latas de óleos que eram quadradas naquela época. Quase trinta vagões. Entre as mangueiras fiz uma pista que era a linha. A cada dois metros uma estação com caixa d’água e lenha para abastecer a Maria-fumaça. Fazia ainda pequenas pontes, desvios e até túneis. E ali passava o dia. Apitando e conversando sozinho. Fazendo barulho com a boca. Chegava a juntar uma espuma branca nos cantos da boca, de tanto imitar o trem. Como havia na frente dessa estação uma mangueira para gado eu ainda construi uma pequena mangueira na minha linha férrea. E os bois eram mangas verdes com quatro gravetos que serviam de pernas. Tenho saudades daquele tempo.