Caminhar sozinho...
Bom título, não? Preparem-se! Aqui vai o meu mais melancólico texto!
Não, brincadeira. O título deve ser interpretado no seu sentido literal. Nada de metáforas, nada de subjetividades. Vou falar sobre andar sozinho.
Porque? Porque isso me dá muito medo.
"Medo? Mas tu é muito covarde!" Aposto que esse pensamento cruzou a sua mente. Tudo bem, vou explicar melhor. O que me apavora é andar sozinho durante a noite. No escuro. No silêncio. Onde cada passo ecoa pela rua sinistramente, enregelando sua espinha e elevando seus sentidos ao limite. Você olha para os lados e não vê viva alma, mas ainda parece-lhe estar sendo seguido. O ruído do seu calçado triturando a areia da calçada soa desagradavelmente alto, como se estivesse camuflando os passos de alguém mal intencionado que lhe segue. Você vira-se instintivamente, apenas para flagrar o nada. Você aperta o passo, baixa a cabeça e acelera, com medo de olhar ao redor e encontrar algo fora do lugar. E assim você vai, neste ciclo de pavor idiota, até chegar ao seu destino, olhar para trás e perceber que você tem medo de absolutamente nada.
Tudo bem, ninguém é medroso a ponto de se sentir assim. Ou tão covarde como eu, que chego próximo a esse estágio.
Mas, todos já sentiram medo algum dia. Não necessariamente de andar sozinho, mas de uma outra situação qualquer. Obviamente, neste ponto cabe explicar que o medo divide-se em dois tipos: medo real e medo psicológico. Ou talvez um medo corporal e outro mental.
Complicado, não é? Digamos que, quando alguém brande uma faca contra você, inconscientemente você se esconde, busca abrigo, se encolhe. Tenta proteger-se do dano. Uma reação baseada nos instintos de sobrevivência. Você tem medo. Mas medo de que? De se ferir. Basicamente, esse é o medo físico.
O outro, o mental, já é muito mais complexo. Vou tentar colocar o meu entendimento em palavras. Provavelmente falharei...
Medo psicológico é aquele que vai além dos instintos animais. Não vai danificar o seu corpo. Pelo menos não diretamente. Digamos que, quando você está prestes a realizar o seu exame semestral da faculdade. Você está ali, sentado em frente àquela folha de papel, com uma caneta Bic. Há algum perigo físico? A menos que o rapaz sentado a sua frente seja o maniaco da esferográfica azul, você vai sair dali com seu corpo intacto.
Então, porque você sua frio e sente tremores? Porque o nervosismo e a tensão? Certo, podem me xingar do que quiserem por fazer uma pergunta tão estúpida, mas eu precisava desse exemplo. Então, você tem medo de não passar. Medo de falhar, de se flagrar insuficientemente preparado, ou até mesmo incapaz. Medo psicológico. Um medo, dizem, milhões de vezes mais destrutivo que o físico. Afinal, se ameaçado com uma faca, você vai reagir tentando impedir que seu agressor complete o ataque. Agora, se ameaçado com o fim de um relacionamento, só Budda poderá dizer como você reagirá...
O medo psicológico é atualmente o que mais nos flagela. Nós vivemos em uma sociedade civilizada e ser agredido já não é algo tão comum. Porém, essa mesma sociedade civilizada está cada vez mais competitiva. Nós precisamos ser cada vez melhores, apenas para que possamos sobreviver. E em diversos momentos nós temos de enfrentar outros seres humanos, nossos iguais, para alcançar determinado objetivo. E é nessas horas que o nosso medo psicológico floresce. Você precisa vencer, mas a concorrência é forte. Talvez você perca. E isso lhe faz tremer. Você perde o sono, fica deprimido, deixa de achar graça em piadas que outrora faziam-no gargalhar. O temor te afeta profundamente, te modifica. Você entra em uma espiral de temores e falhas. E quando chega o dia do embate, você está destruído mentalmente, sem forças. E você é derrotado. Seu medo se concretiza, e torna-se um trauma. E aí meu amigo, aí o caminho não tem mais volta.
"Céus, que quadro tenebroso!" Realmente, explicando friamente, a imagem que se tem é terrível. Mas pense um pouco: Você foi derrotado, mas e a pessoa que venceu? Ela não tinha os mesmos medos que você? Ah, boa pergunta! Talvez ela tivesse. Talvez não. Como saber? Não há. A diferença é que: ela enfrentou seu medo.
Ótimo, cheguei no mote padrão do livro de auto-ajuda. Enfrentar seus medos. Quantas milhões de vezes já ouvimos isso.
E você pensa: "mas eu morro de medo de cachorros. Como é que comprar um deles vai me ajudar?"
Não vai. Se você tem medo, provavelmente ele vai te morder. E o seu medo vai piorar. Esse negócio de "faça o que você teme" é bobagem. Se fosse simples assim, você não teria medos. Quem te dá este conselho é um alienado. Talvez o seu medo seja paranóico, talvez seja irracional. Enfrentá-lo pode causar um dano imenso ao seu ser. Então, o que fazer?
Você tem, no meu ponto de vista, duas escolhas: Se esconder. É mais seguro, mas vai te manter eternamente no mesmo lugar. Ou a mais singela e até risível das duas: armar-se!
Não, nada de comprar um revolver. Mas estude sobre o seu medo. Tem medo de abelhas? Estudo uma forma de enfrentá-las. Tem medo de um acidente de carro? Aprenda direção defensiva. Você não precisa enfrentar o seu medo, apenas estar preparado para ele!
Está com medo daquela prova final? Estude como um condenado. Esteja preparado para a prova. Mesmo se você falhar, vai poder sorrir e dizer: "puts, e eu estudei!"
Resumidamente: Traga racionalidade para o seu temor. Se lançar em uma batalha sem conhecimento é, me desculpe a sinceridade, burrice. Apenas esteja preparado. Com sorte você passará sua vida inteira sem ter de encarar o que lhe assombra. Enfrentá-lo é criar um embate desncessário. Pode ter medo, mas que seja racional.
É como dizia um texto que li num livro escolar uma vez, não me lembro o autor e nem o livro, mas enfim:
"Se dois homens, um bravo e um medroso, depararem-se com um leão, é provável que o bravo bata no peito e espere o leão. O covarde, com certeza, subirá numa árvore para se esconder. Desnecessário dizer quem permanecerá vivo. Moral da história: se uma lápide com um epitáfio heróico não é o que você almeja, tenha medo."
Então, espero que a mensagem tenha ficado clara. Neste instante tenho de sair as ruas sob o negro céu. Enfrentar meu medo? Talvez, mas por via das dúvidas levarei meu guarda-chuva com cabo de ferro. Rezo para não ser atacado, mas por via das dúvidas, nada como uma paulada no meio do estômago...