QUASE UM SUICÍDIO...

Quase um suicídio...

Assim como o pássaro que lhe empresta o nome. Socó hoje, assim está, observando a negra floresta de seu passado. Tentando encontrar nela a resposta para a pergunta. “Por que a vida lhe foi tão sem graça? Tião Socó observa o vazio ao lado dos velhinhos que com ele dividem as dependências do asilo São Vicente de Paulo, em Joaquim Távora, no Paraná.

Nascido no Rio de Janeiro, veio parar no Paraná, junto com sua irmã Maria da Penha.

Ambos tiveram uma vida difícil, ele mais ainda, porque começou a beber muito cedo até acabar sofrendo de epilepsia.Era comum ver aquele baita negão desabar e se torcer no chão. Ele nunca pode constituir uma família. Começou a trabalhar de pedreiro, quebrou milho, foi bóia-fria, etc. Aprendeu a dirigir. E passou por bom tempo ao lado de uma família que lhe ajudou um pouco.

Nessa crônica não estaremos omitindo nomes por tratar-se de uma história real. E a ausência de nomes poderia enodoar o verdadeiro fim que pretendemos dar aos nossos heróis.

Tião Socó, fazia de tudo. Com quase dois metros de altura, até goleiro foi. Não pela técnica, mas pelo tamanho. Era muito frangueiro.

Num dia qualquer de uma semana qualquer, nosso King-Kong, já meio encharcado passou pelas vendas reclamando da sorte. E com uma corda nas mãos passou para tomar a sua “última” dose.

- Ari... Me dá aí... Mais uma cachaça, vou acabar com esse sofrimento!

O dono do bar nem deu bola para as suas palavras. Colocou a dose e pronto. Mas dois meninos que brincavam por perto, ouviram a conversa do afro-descendente.

- Você ouviu David?

- Ouvi, Jonathan! Vamos segui-lo!

Socó olhou para todos os lados como estivesse se despedindo do mundo e desceu uma ladeira em direção a uma árvore que ficava no meio da ribanceira. Ele estava tão bêbado que não conseguiu amarrar direito a corda na árvore. Não viu que os meninos estavam acima dele sobre uma pedra que alcançava a altura da corda. Eles desataram a corda, mas ficaram segurando. Socó pensou alguns segundos antes de saltar para a morte. Quando saltou caiu duma altura de três metros e ficou chorando com a corda no pescoço. David e Jonathan desceram rapidamente, tiraram a corda e ficaram conversando com ele, até aparecer mais gente para levá-lo para casa. Deus esteve ali presente. Esses dois meninos, hoje já são homens. E Socó nunca mais tentou o suicídio.

Theo Padilha, 10 de agosto de 2008

Theo Padilha
Enviado por Theo Padilha em 10/08/2008
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