Net sem Net
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• Dois pães estão no forno. Um deles vira e diz: nossa, como está quente aqui dentro. O outro pão exclama: Nossa! Um pão que fala.
Assim começa esta traçada, e essa super-piada serve como termômetro mental, assim, já sabes o que te espera, depois não diga que não avisei.
Lendo o Alexandre Tambelli, mês passado, fiquei estarrecido com duas revelações: uma sobre o comentário do RL, que está na crônica dele, outra sobre o funcionamento dos meus esquilos (leia-se Tico e Teco).
Primeiro os esquilos. Por conta de umas questões paralelas, sou usuário de Lan. Confesso. Uso Lan quase todos os dias. Só que Lan tem relação com a carteira, e não com carneiros. Desse modo, nem sempre uso Lan. Mas, no começo de RL, chegava a usar Lan 3 vezes ao dia. “Contas” nunca foi o meu forte. Vai daí que o resultado se transformou em Telecentro. O Telecentro que eu freqüento, além de “de grátis”, é “da hora”, mas não rola fone de ouvido. (Olha, experimenta um tempo, maior que o desejado, na companhia de pré-adolescentes, e despues me conta. Tsk. Prefiro adotar-lhes os vocábulos do que me livrar deles. São uma gracinha, e o peculiar linguajar minimalista revela o brilhante futuro do planeta: tá ligado?!) Agora entram os esquilos. Quando se constata a adicção em Lan, e não se pretende largar, urge agir com rapidez, já que o taxímetro está “on” e existem tarefas eletrônicas a serem cumpridas, além da diversão eletrônica RL. Diz um ditado que a pressa é inimiga de não sei quem, mas agora não é hora para isso, e só atino que ia usando Lan e me deleitando no RL, todos os dias, até o dia que me deparei com o Tambelli. Na época sofria de síndrome de declamação, queria ouvir os que declamam, na foto ele traja um fone de ouvido, ouvi as poesias, achei show e a vida andou. Para o Telecentro. Percebes o funcionamento dos meus esquilos? Eles fixaram um cartaz na minha cabeça, mais ou menos assim: naquela escrivaninha só rola som, toca pra outra porque aqui, som, “não vira”. Agora um parêntese: tem sido assim a vida inteira. Defeito de fabricação, quiçá.
Os esquilos acham que entendem algo, decodificam, digerem, rotulam, armazenam, e partem em busca de novas aventuras. Ou de amêndoas. (Os meus esquilos gostam de polenguinho). Foi quando eu percebi que dei o fora do século com o poeta, e a presente traçada é também um pedido de desculpas, mas eu não tenho culpa. Detalhe: os meus esquilos colocaram um fone de ouvido na foto dele. Dá pra conceber?!
E a única forma de me livrar de outra síndrome, a de Gabriela – “eu nasci assim, eu sou sempre assim, etc. ” – é fazendo uma revisão diária, para descobrir como e quando os esquilos trapacearam. Trata-se da maneira correta de não deixar eles tomarem conta do pedaço. Pelo menos não completamente. Aqui vem o fora, e o fim da etapa dos esquilos: o Tambelli é autor, dos bons, tinha esquecido que graças a ele redescobri itens fundamentais na minha existência, entre outras, e fiz um comentário absolutamente “abobrinha” quando o li, mês passado. Nada desrespeitoso, porque essa não é minha praia. (Apenas um comentário baseado numa interpretação errônea do trabalho do autor. Isso porque os esquilos me disseram que o negócio dele era áudio.) Não é. E na crônica lida, a revelação: que existem pessoas que, no intento de angariarem fãs, transformam o comentário de RL no milagre dos pães. De um fazem mil, copiando e colando. Imagine. Deve ser um programão. A cuja ou o cujo, depois de um monumental esforço intelectual, chegam num comentário padrão, digamos: “Jóia!” E daí passam o dia viajando no RL, copiando e colando, e espalhando “Jóia!” pelo mar do RL.
Tambelli diz ainda que o escritor não é uma maquina de fazer textos, o que assino embaixo, em cima e dos lados, e que é necessário um tempo para leitura,(continuo assinando), e por aí a fora. Tem reflexão para anos na crônica dele.
Até semana retrasada, dedicava uma hora inteira, por dia, para ler no RL. Por conta de umas questões paralelas, nesses últimos idos, não deu.
Outro dia, do meu lado, tinha um sujeito que exclamava baixinho: inferno, vezes sem fim, e dava uns coices na máquina. À minha direita, uma mulher levantava da cadeira a cada 5 minutos, e ia reclamar não sei o que com o atendente. Daí voltava. Daí falava sozinha, para tornar ao atendente e de novo à cadeira, enquanto que do meu lado esquerdo, o gajo prosseguia, “inferno”. Fui fazer um comentário para alguém do RL e quase escrevi isso. Daí me lembrei de um famoso general, da segunda guerra, dizendo: quando morrer, sei que vou para o céu, porque já estive no inferno. As coisas que nos permeiam, numa Lan. E a mulher do meu lado, roupas esquisitas, atormentada, “pobre alma”, pensei.
Na hora de ir embora, descobri que ela era ele, ainda por cima barbado, apesar do cabelão. Mas a voz esganiçada e o rosto que não vi tapeou os esquilos, que, por sua vez, etc, já vimos esse filme. Aliás, falando em filme, quinta à noite teve filme no clube dos descasados. “Até o último Miojo”, filme triste embora bem produzido.
Ontem, uma moça que, digamos, não sofre de falta de fome entre as refeições, entalou na cadeira, daí sua revolta se espalhou ao atendente, daí ao gerente, eles pediam para ela sair, que o tempo havia esgotado, ela se desvencilhou mas empacou, disse que não saía, a máquina foi desligada, outras pessoas queriam usar, daí vi o sujeito que achei ser cromossomo Y entrando, enfim, ontem foi um dia corrido.
“O que é o que é, que tem 4 pernas, é verde, e se cair da árvore te esmaga? Uma mesa de sinuca.”
Publicar é mais em conta, sobretudo quando descobri uma Lan que topa disquete (nem todas topam). Antes eu esperava uma safra, punha num CD e ia pra Lan (CD as Lans topam). Também esta semana pensei numa nova obra literária. Título: Tratado Universal.
Subtítulo: “Todo o que você sempre quis saber sobre a Lan House mas nunca teve o menor interesse”. Vai ser um livrão e com certeza um sucessão. Porque se não houver sucessão, sodeu.
Deixo aqui um abraço aos amigos e amigas que deram novo alento em minha vida. Até então, não os conhecia, sequer supunha que existissem. Hoje minha vida seria triste e cinzenta sem o colorido deles.
• Sabe o que o esotérico disse para o vendedor de hot-dog? Quero um com o todo.