FRAGMENTOS DE TAÇA VAZIA
FRAGMENTOS DE TAÇA VAZIA
Marília L. Paixão
Uma coisa que entendo do amor é que ele não perde a memória. O resto são histórias que invento quando não estou te vendo. Mas se permite confessar, eu sempre te vejo quando falo de amor. Vejo as pessoas que amo e muitas vezes todas as pessoas que amam eu também procuro ver.
O mesmo posso dizer das palavras. Quando quero falar falo, quando quero escrever escrevo. Portanto posso não parecer estar dizendo muito quando tudo já foi dito.
Há silêncios que são muito amigos.
Quanto você deseja tomar de mim? Perguntei para a taça
Quando me pareço muito séria no espelho sinto uma infelicidade atrás de mim.
Penso nos anos
Nas linhas dos olhos e da boca.
O lápis quebrou a ponta e sem a ponta ele ficou.
Já deve ter gente se perguntando: cadê a escritora? . r.sr.s..
Ela está pensando em ir até a cozinha para colorir a taça com mais um pouco de vinho, mas ainda não foi. Ela acabou de escrever um daqueles longos textos de amor que a maioria gosta e que é a cara dela, mas ela leu, achou lindo e guardou. Ela está pensando com seus botões: Será que eu nasci foi pra isso? Para escrever sobre o amor? Será que isso me basta? Será que isso não é pouco? Será que eu quero muito mais? Quero sim! Dizer que não seria mentir para o lápis de ponta quebrada.
Marília ganhou mimos especiais nessa noite.
Poderia ter ido dormir feliz logo em seguida.
Mas ficou esperando a noite inteirinha acabar para depois se banhar e morrer.
Às vezes dormir é como se despedir de um pranto.
Mas não deixa de ser um grande sossego.
Uma forma de restaurar a vida.