NANCINHO!

Por Ulisflávio Oliveira Evangelista

Segunda-feira – 12 de fevereiro, é inicio de ano escolar para Venâncio ou “Nancinho” – como era chamado por seus pais. Precavido que só, já havia arrumado a sua mochila com todos os “instrumentos” necessários para cursar a sexta série. O kit era composto de: dois cadernos, livros de ciências, matemática e história, estojo contendo lápis, borracha, apontador, lapiseira, grafite 0,5, régua de 10 cm e uma caneta azul – que guardava em segredo.

Acostumado a levantar cedo, Nancinho quase não fazia corpo mole quando o seu despertador anunciava o horário de levantar, porém, esta era uma segunda-feira atípica, Nancinho iria cursar a sexta série em uma nova escola e, conseqüentemente, nesta nova escola ninguém o conhecia e para seu total desespero isso se traduzia naquela habitual apresentação e comentários sobre a sua “graça”.

Não é que ele não gostasse de seu nome, é que ainda não havia se acostumado com ele. O nome de batismo foi em homenagem ao seu avô – Venâncio Siqueira de Carvalho – que já havia falecido de causas naturais no seu pequeno sítio - mas isso já é uma outra história.

O despertador marca 05:55, Nancinho já estava acordado a mais de dez minutos, não havia conseguido dormir muito em razão de um sonho, ou melhor, um pesadelo que tivera sobre o primeiro dia de aula.

Lentamente ele se dirige ao banheiro localizado no corredor da casa, escova os dentes, penteia os cabelos e retorna ao seu quarto. Após vestir o uniforme novinho e calçar o tênis, pega a sua mochila, coloca-a em seu ombro direito e vai até a cozinha para tomar o seu café da manhã.

Na cozinha, estava a sua mãe – Zilú – preparando o seu café da manhã preferido: pão francês com manteiga e café com leite.

- Nancinho... num fica assim!

- Assim como mãe? Não é a senhora que vai ter que enfrentar tudo de novo...

- Isso é besteira, você tem um nome tão lindo...

- Super lindo, V-E-N-Â-N-C-I-O!

- Ah, para com isso e vem logo tomar o seu café, Nancinho!

Após fazer um desses resmungos qualquer ele toma o seu café com leite, come o seu pão e vai para a porta da sala, ele ainda consegue ouvir a sua mãe se despedir mas finge que não ouve. Sai e fecha a porta.

No caminho ele vai pensando como seria o desastre, só risadas ou algo mais, talvez as meninas não iriam querer conversar com ele e os meninos não deixariam ele entrar no time de futebol na hora no recreio. Desastre, desastre, desastre, porque o meu avô não se chamava “Carlos”, “Paulo”, sei lá qualquer coisa menos “Venâncio”.

Nancinho estava na porta da escola e pensava “entro ou não?”. Após pensar por um breve instante acaba decidindo por entrar. Agora só faltava achar a sala certa e sentar no lugar mais escondido – pensava.

A aula começa, e a professora de Ciências – Paula – começa a ler a lista com o nome dos alunos como previa o Nancinho.

- Arthur

- Presente!

- Bruna

- Presente!

Nancinho começa a suar frio, estava perdido não havia outra saída, iria ficar “queimado” pelo resto do ano.

- Pedro

- Presente!

- Rafaela

- Presente!

“Ai meu Deus, eu preciso fazer alguma coisa... E se eu responder "faltou" quando ela chamar o meu nome, será que dá na cara?”.

- Saulo.

- Presente!

“Pensa, pensa, pensa...”.

- Silmara.

- Presente!

- Silvio.

- Presente!

- Túlio.

- Presente!

Seu coração batia rápido, a mão pingava “eu sou o próximo...”.

- Venâncio.

A voz não saia, o coração estava a mil, a vista escureceu...

- Venâncio? – Pergunta novamente a professora.

De repente, ouve-se um estrondo no final da sala, era Venâncio que havia caído da carteira desmaiado.

Nancinho experiente estava certo novamente, algo mais aconteceu!

Ulisflávio Evangelista
Enviado por Ulisflávio Evangelista em 13/02/2006
Reeditado em 17/09/2007
Código do texto: T111497