Afinidade
Muito já li sobre a afinidade, esse encontro sutil e indelével que se estabelece, sem que consigamos traduzi-lo em exatidão.
Há afinidade, não apenas se nos percebemos no outro, mas também quando somos reconhecidos pelo outro, apesar do que somos e das diferenças que nos envolvem.
Quando há afinidade, as palavras podem ser profundos silêncios, porque aquele que nos é afim, é capaz de ouvir a voz do que nos cala. Mesmo o pensamento reflete-se na mais clara nudez, cúmplice do tom e do som do olhar daquele que nos contempla, adivinhando o idioma que nem sempre consegue ser expresso na linguagem das palavras.
Kierkegaard, filósofo dinamarquês e pai do Existencialismo, já dizia que: “todo compreender é afetivo”. Penso que afinidade não requer igualdade, mas compreensão e entendimento no que se é distinto do outro. Assim, afinidade é alcançar e abraçar o mundo de alguém, mesmo se nossos passos precisam trilhar estradas distintas, quando o tempo leva-nos em ausências e distâncias.
Ser afim é “baixar a guarda”, porque o outro sabe aceitar a nossa entrega e, outras vezes, a nossa necessidade de solidão.
A afinidade sugere consentimento, mas também respeito ao universo de mistérios do outro. É mergulho em que não se explicita profundidades, porque aquele que nos é afim sabe o momento de emergir ou imergir nas águas claras e turvas, em que navega a nossa existência.
Fernanda Guimarães
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