POLÍTICA E FÉ
POLÍTICA E FÉ
Polis = cidade. Política = ciência e atividade que se ocupam da ordenação da vida pública. Para saber o que é a política, não basta descrevê-la: deve-se ir até a moral, o estudo profundo sobre o ser humano (antropologia), sobre as coisas que envolvem o ser humano (ontologia) e sobre as coisas de Deus (teologia). O político não é algo alheio, separado da realidade, mas aquele que dá sentido e valor à ordem objetiva da instituição política. Sendo assim, podemos dizer: Política é a arte de governar bem (Dic. do pensamentos Contemp. Verbete, Política)
A pessoa humana é um ser essencialmente político e sociável. E os que governam o povo político, devem saber que o Estado deve cumprir sua função essencial de garantir a paz, a justiça e o bem-estar para todos. Para o cristão a liberdade é uma realidade da qual deve tornar-se digno; a igualdade com os outros seres humanos instaura-se somente num clima de respeito recíproco e de fraternidade, e não numa luta pela afirmação de uma só classe sobre as outras; a justiça é a força da conservação da comunidade política e a condição indispensável para permitir à amizade cívica tomar forma de igualdade entre os desiguais.
O político, pela sua própria vocação, exerce um poder que deve saber desvincular-se de interesses particulares, para poder encarar a sua responsabilidade pelo que se refere ao bem de todos, passando para além das fronteiras racionais, tomar a sério a política, nos seus diversos níveis: local, regional, nacional e mundial, é afirmar o dever de todos os seres humanos de reconhecerem a realidade concreta e o valor da liberdade de escolha que lhes é proporcionada, para procurar realizar junto o bem da Cidade, do Estado, da Nação e do Mundo. A política é uma das maneiras exigentes de viver o compromisso cristão a serviço dos outros.
Os cristãos solicitados a entrarem na ação política, devem esforçar-se para encontrarem uma coerência entre suas opções e o Evangelho de Jesus Cristo e, dentro de um legítimo pluralismo, dar testemunho, pessoal e coletivo, da seriedade da fé e estarem sempre a serviço dos que eles representam (GS 74-76).
O fato de a Igreja Católica não possuir nem oferecer um particular modelo político, nem estar ligada a um determinado sistema político, não quer dizer que ela não deva formar e encorajar os seus fiéis para que tomem consciência da responsabilidade política e que façam opções a favor das soluções e lutem por um modelo de partido político que expresse mais de perto os anseios do povo mais sofrido, que esteja mais próximo da Doutrina Social que ela prega (GS 76).
Com efeito, a fé cristã valoriza e estima grandemente a dimensão política da existência humana e da atividade em que ela se exprime. Daí resulta que a presença da Igreja no campo político é uma exigência da própria fé, à luz da realeza de Jesus Cristo, que exclui um dos erros mais graves da nossa época, o divórcio entre a fé e a vida cotidiana. “O pior político é aquele que odeia a política” (Paulo VI).
A Igreja pode e deve julgar o comportamento político, não só quanto à esfera religiosa, mas também em tudo o que diz respeito à dignidade e aos direitos fundamentais do ser humano, o bem comum, a justiça social (GS 76). Trata-se duma política entendida no seu mais alto valor sapiencial, que é tarefa de toda a Igreja. O empenhamento político, no sentido de tomar decisões concretas, de formular programas, de conduzir campanhas, de dirigir representações populares, de exercer o poder, compete aos fiéis , segundo as leis justas e as instituições da sociedade de que fazem parte. O que a Igreja pede e se esforça por procurar para estes seus filhos e filhas, é que possuam uma consciência reta e conforme as exigências do EVANGELHO, para agirem sábia e responsavelmente ao serviço da comunidade (CDC – Cân. 227).
É necessário que o mundo do trabalho, da economia, da ciência, da arte, da comunicação, da política, sejam guiados pelos critérios evangélicos. E isso não está acontecendo, de modo especial no campo político. Há uma incoerência entre fé e vida. E enquanto os cristãos continuarem a detestar a política, teremos os piores políticos à frente da sociedade (DSD 96).
Diante de tudo isso, pode-se perceber que o cristão não está e nem deve ficar alheio ao mundo da política. Como batizados, ele é convocado a escolher bem e acompanhar os políticos e ajudar as pessoas que convivem com ele a também descobrir, escolher melhor e acompanhar aqueles que irão representar o povo, irão falar e agir em nome do povo. Estamos em ano eleitoral. É de suma importância que escolhamos bem em quem votar. Pois, por um voto, ganha-se uma eleição. É preciso observar qual candidato que aproxima suas propostas da Doutrina da Igreja, dos requisitos mencionados acima, que irão nos representar na Presidência da República, no Senado, no Congresso Nacional, no Governo de Estado e na Assembléia Estadual. Observar se as propostas são cabíveis, ou são propostas milagreiras, impossíveis de serem realizadas.
O partido político que tem história, que oferece propostas de governo com sensatez, prudência, equilíbrio e responsabilidade, dentro das normas regidas mundialmente em defesa do ser humano, merece nossa confiança. Mas, quando a proposta apresentada favorece o neoliberalismo, favorece a situação, onde o rico fica cada vez mais rico, à custa do pobre cada vez mais pobre, não merece o voto do cristão consciente. Pense bem, vote certo, eleja o melhor. O povo brasileiro merece governantes comprometidos com o bem-estar de cada cidadão (Puebla 1135).
GS = Gaudium Et Spes (Doc. Conciliar – Vaticano II)
CDC = Código de Direito Canônico
Puebla = Documento de Puebla
DSD = Documento de Santo Domingo
Síntese dos documentos
Acácio