DONA PODEROSA DE MIM MESMA
DONA PODEROSA DE MIM MESMA
Marília L. Paixão
Ele diz que gosta de peixe, mas quer que eu cozinhe um boi
Ele diz que toma chá se preciso for, mas não abre mão do leite
Ele diz que adora sorvete e se esconde atrás de um pudim depois de quase seu fim e jura que não mente.
Eu também não minto.
Eu digo que vou parar de comer trufas depois do almoço e espero até ás três.
Eu digo que vou caminhar mais vezes e não tiro os dedos deste computador de onde sentada estou e acho que tenho caminhado bastante com as letras.
Vivemos em harmonia. Eu com os meus quilinhos e ele com a boa vida.
Ele que nem liga para as cervejas que compro para ele, mas sou eu quem tomo.
Ele que diz carregar sozinho o mundo nas costas enquanto escrevo poesia e sonhos.
Eu digo que nem em sonhos ele daria conta de me sustentar sozinho.
Quem dera fosse verdade que ele carregasse os fardos e eu só tomasse um solzinho.
Nesta altura o meu livro já até estaria pronto com o sol e a lua se abrindo.
Eu estaria mais besta e talvez até mais magra.
Eu estaria rindo como um peixe num copo de água.
De qualquer forma, te darei o título de rei de mim
Te darei o lado da cama que escolhe dormir mesmo quando ainda não vou
E ao fechar as cortinas que você sempre deixa aberta a soltar roncos suaves
Eu novamente me nomeio rainha e dona toda poderosa de mim mesma
É assim que me deito e lhe beijo mesmo sem você perceber
Um pouco depois quando roça seus pés no meu deixa pesar um sobre um
Como se mesmo dormindo assumisse sua pose de dono
E eu mesmo ainda acordada, adormeço me sentindo rainha.