Ao sair...
Dia desses, conversava com uma amiga quando chegamos a um tópico sobre o qual ambos temos debatido muito ultimamente: Sair de casa.
Afinal, com 18 anos a grande maioria dos jovens quer morar sozinha. Sentir a liberdade, abandonar as regras, o conforto e, porque não dizer, a segurança da casa dos pais. Nem todos conseguem. Há aqueles que se aventuram. Colocam uma mochila nas costas, um ideal na cabeça e partem. Destes, poucos conseguem se firmar. O mais provável é que eles descubram logo em seguida que fizeram uma grande burrada. Porque sair de casa é um grande passo, e se for dado de forma displicente, pode gerar alguns transtornos.
Eu sou extremamente meticuloso quanto a essa decisão, mas respeito quem toma-a sem pensar, como uma aventura. As lições que tais pessoas aprendem, por mais duras que possam ser, serão de grande importância. É o modo rápido de se adiquirir a maturidade necessária. Rápido, mas não fácil ou agradável.
Pessoas mais acomodadas e menos dadas a riscos, como eu, preferem encontrar uma possibilidade segura de alçar vôos solitários. Um emprego que lhe possibilite pagar um apartamento. Uma faculdade que tenha dormitórios. Qualquer desses caminhos, que pareça mais em conta.
Mas isso é o óbvio. A questão que me chamou a atenção não foi o desejo de sair. O que me surpreendeu foi a motivação que gera esse desejo. E aqui, talvez nem todos concordem, mas eu devo dizer que tenho propriedade para afirmar que: o que faz um filho querer sair de casa é o zelo dos pais.
Porque? É simples. Você tem 18 anos. Você já pode assinar sua carteira de trabalho, já pode dirigir, já pode beber e entrar em boates. Você tem sua liberdade formal e com aval da legislação. Ótimo, você é adulto! Mas de que adianta isso se quando você acordar de ressaca na manhã seguinte terá de ouvir um sermão de seus pais sobre os perigos de dirigir embriagado. De que adianta sua liberdade se você consegue convencer a beldade da festa a entrar no seu carro e, ao sentar-se ela olha o painel e pergunta com uma expressão que mistura curiosidade e zombaria, enquanto aponta para o novelo de lã que sua mãe deixou por ali: "Você sabe costurar?". De que adianta bradar nas rodas de amigos que você agora é um adulto completo, se dentro de quinze minutos seu telefone tocará, e você dirá inconscientemente ao ver o número no display: "Mãe?!" Não, isso é impossível. Para se provar adulto, mais para si mesmo do que para os outros, o indivíduo precisa vencer as barreiras e deixar o ninho. Ser o "queridinho da mamãe" não soa muito maduro quando dito com um copo de cerveja na mão, olhando nos olhos de uma paquera qualquer. O carinho de nossos pais nos obriga a sair de casa. A preocupação deles nos faz ter de correr perigos. O zelo nos faz sentir a obrigação de arriscar a vida.
Eu tenho certeza que ninguém vai concordar comigo. Ninguém consegue admitir uma coisa destas. Mas quando se faz 18 anos, o orgulho próprio não lhe permite mais ser paparicado por sua mãe. E isso é fato. Azar de quem segue seu orgulho e vai sofrer as asperezas da vida de liberdade. Sorte de quem, como eu, foi criado de forma a deixar o orgulho de lado, e mesmo sentindo que sua maturidade inexiste, ainda sorri quando sua mãe lhe traz o leite quente na caneca do pokémon antes de dormir...