É NATAL !!!
Por Ulisflávio Oliveira Evangelista
É impressionante como o tempo passa rápido, lembro-me ainda da festa de natal do ano passado, toda a família reunida na casa dos Bezerras, as crianças correndo pelo quintal, as receitas pacientemente preparadas pela dona Sônia (esposa do Paulo Bezerra), os aperitivos...parece até que foi ontem.
Enquanto Geraldo termina de fazer as últimas contas do orçamento mensal da casa, a Júlia – sua esposa – grita por ele lá da cozinha.
- Amor! Vem aqui um pouquinho?
- Já vou... – responde Geraldo sem tirar os olhos da calculadora.
Geraldo caminha em direção a cozinha, é nítido o seu olhar de preocupação, algo realmente o deixava atribulado.
- Me chamou? – mostrando só a cabeça pela porta.
Júlia que, com um simples olhar podia decifrar até a cor do problema que havia deixado o Geraldo tão abatido, responde.
- Chamei sim! – fala sorrindo, e completa: Algum problema Geraldo?
- Problema...não, é que eu estou meio cansado...um ou outro probleminha lá no escritório...nada de mais.
- Geraldo!!! – tenta novamente obter a verdade da própria boca do marido.
- Tá bom, eu refiz mais de dez vezes as contas e...
- E...
- E...não vai sobrar nada para o Natal deste ano.
Um pequeno silêncio ecoa na grande e confortável cozinha do apartamento do casal, Geraldo puxa uma cadeira – destas de revistas de decoração – senta-se, olha fixamente para a Júlia e diz:
- E agora, como vamos passar?
Júlia copiando o gesto do marido, senta-se e olha lentamente pelos detalhes da cozinha e responde.
- Simples, este ano vamos passar o Natal aqui em casa, não precisamos viajar, gastar dinheiro, passamos a sós, você e eu. Vai até ser bastante romântico.
- Mas o que o Paulo vai dizer? – refere-se ao seu meio primo de terceiro grau que mora em Fernando de Noronha.
- Ora sei lá, dizemos que neste ano vamos variar e...
- Não sei não...
- Mas Geraldo, se não for deste jeito eu não sei...
- Você tem razão, nós não temos como viajar neste ano. Vou ligar para o Paulo e falar que sua mãe ligou e...
- Porque minha mãe?
- E porque não? – retruca Geraldo.
- Não sei...esperava que você fosse dar uma outra desculpa, do tipo: nós não temos dinheiro para viajar até Fernando de Noronha!!!
No momento em que Geraldo ameaçou dizer uma palavra toca o telefone, apressado ele estica a mão e atende.
- Alô? – responde Geraldo alegremente - Oi Paulo...como vão as coisas...está te mandando um beijo...claro...combinado...sei, Natal aí na sua casa...combinado...até lá, um abraço.
Geraldo desliga o telefone, olha de rabo de olho para a esposa, respira profundamente e diz:
- Entramos novamente no limite de crédito!
Júlia olha-o fixamente com um olhar que mete medo até para descrever e sai em direção à porta da sala balançando lentamente a cabeça.